sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Bastarda

Como se ela tivesse culpa. Talvez achem que isso muda muita coisa na sua vida, mas não muda nada. Saber disso, perceber isso... Sim, e aí? Tudo ficou igual. Ela continua amando quem amava, considerando quem considerava...
Entra por um ouvido, faz menção em parar mas passa direto e some, sem voltar. Bastarda. Soa tão... tão... tão nada para seus ouvidos sensatos. Queria ela contar isso, contudo, sem dúvida, é melhor que continuem achando um monte. Achando, inclusive, que essa palavra a desconfigura e a desmancha; quando, na verdade, não a causa nada. Simplesmente nada.
É como se eles pensassem que ela se importa. Deixemos eles continuarem pensando isso, afinal, a palavra tem mais impacto para eles, do que para a própria (bastarda).

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Não há nada que o esforço não traga, eu acho

Eu amo escrever. Eu odeio não ter a inspiração necessária para transformar todos os meus projetos de histórias, em histórias reais. Se tem uma coisa que invejo, é a habilidade de certas pessoas com as palavras. Elas fluem com tanta facilidade, que me pergunto se isso pode ser um dom. Se for um dom, eu não o tenho. Mas, se toda essa habilidade for algo que se possa conseguir com esforço, talvez, um dia, eu chegue lá e cause inveja em alguém. Não, brincadeira, inveja é coisa feia. Melhor: cause admiração.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

- Não entendo por que as mulheres precisam se maquiar todos os dias - ele me diz, tentando mostrar seu ponto de vista.
- A maquiagem de uma mulher é, por exemplo, como os desenhos de um vaso. Que graça terá um vaso liso, sem detalhe algum para chamar a atenção? - sorri, orgulhosa com meu exemplo sensato.
- A flor será igualmente linda, não importando o adorno do vaso que a tenha.


Luana Natália
 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Frustrada com o que poderia ser mas não será.

Quando você imagina demais um momento, quando você planeja cada milésimo de segundo, quando você sabe exatamente como vai agir, quando você passa noites e noites ensaiando mentalmente para dar o melhor de si, quando... quando você descobre que nada disso acontecerá, seu mundo despenca. E despenca de tão alto que é impossível juntar os pedaços: só sobraram farelos.
É assim que me sinto. Meu sonho está tão esfarelado que eu lutei para tentar segurar as lágrimas - o que não deu para fazer. O jeito é esperar por uma segunda chance. Se a vida me der uma. E esse "se" acaba mais comigo, do que qualquer outra palavra, qualquer outra.
Por que a vida teima tanto comigo? Por quê? Eu pedi tanto, supliquei, humilhei-me. A única coisa que eu queria verdadeiramente me negaram. Como eu posso dizer que a vida é justa? Eu quero um travesseiro bem fofo, e muitas, muitas lágrimas para chorar até doer.

sábado, 17 de setembro de 2011

Não foi porque não era para ser.

Eu sei que o texto ficou bastante grande, e que eu deveria dividi-lo em partes, mas acho isso uma tortura! Sinceramente, eu odeio quando tenho que esperar pela parte seguinte de algo. Eu peço, por favor, que leiam, porque foi bem trabalhoso escrever tudo isso e, não há coisa pior para uma escritora (vamos todos fingir que eu sou uma) do que vê seu trabalho mais "trabalhoso" não ser reconhecido. Obrigada para você que leu. E menos preguiça para você que fechou a página. Hehe.

CASAMENTO SEMPRE FOI coisa séria para mim. Um sonho. Uma união de duas almas que compartilharão a alegria que o resto da vida trará. Não podia esconder aquilo da minha prima, minha amiga de infância. Ela não me perdoará, eu sei; mas sei também qual é a coisa certa a se fazer. Mesmo assim, não tenho coragem suficiente nem para olhá-la quando a marcha nupcial começa a tocar.
O vestido, como de praxe, era branco. Ele não tinha cauda, era simples e ao mesmo tempo elegante. Nas suas mãos estavam um buquê de rosas brancas e vermelhas, suas preferidas. À cada passo, mais perto do altar ela chegava. E à medida que ela chegava, mais eu me sentia culpada. Tantos bilhões de homens e justo ele? Isso é complô.
Ao entrelaçar seu braço no dela, nossos olhares se cruzam e eu logo desvio, corando. Minhas mãos estavam geladas e um peso enorme tomava conta de mim.
O padre os abençoa e a cerimônia começa.

ERA DIA 7 DE AGOSTO, lembro-me bem da data. Eu havia passado da conta e cambaleava pelas ruas.
- Vejo que a senhorita precisa de ajuda - falou um jovem com feições belas e voz suave.
- Eu não falo com estranhos - respondi com rispidez, cuspindo, gesticulando e enfatizando cada palavra, como é da natureza de um bêbado.
- Ora, ora - prosseguiu -, vejo que a mocinha é um pouco estressada. Mas, certamente, assim não chegará a lugar algum. Deixe-me acompanhá-la. Será um prazer.
Não pude deixar de notar a sua malícia ao pronunciar a última frase. Eu não conseguiria mesmo chegar em casa daquele jeito, e, também, já estava cansada da monotonia que virou minha vida. Morava com minha prima há alguns anos, desde a morte de meus pais. Ela ficara noiva de um sujeito que namorava e que, até agora, eu não conhecia. Minha prima, que era muito mais velha que eu, tinha arranjado alguém, e para mim, com 7 anos a menos, nada aparecia. Sentia uma abstinência intensa.

EXPLIQUEI-O ONDE MORAVA e, mesmo não estando sóbria, pude notar um certo espanto no seu rosto ao ouvir o endereço.
- O que foi? - balbuciei. - O bairro é pacato demais para você?
- É que agora ao passar por aquele loja de roupas, lembrei que minha mãe quer que eu busque uma encomenda para ela.
- Mas já é tão tarde!
- Eu sei, e sinto em fazer tamanha desfeita. Contudo, está aí o meu número - ele rabiscou e me entregou um pedaço de papel. - Ligue-me e marcamos algo. O motorista lhe conduzirá até a sua casa, não se preocupe. Tenha uma boa noite.
- Boa noite, também, então - surpreendentemente, peguei-me com um ar de decepção. Coloquei o papel tão rápido no bolso, que ele se desfez em um borrão. A dor de cabeça começara a chegar, seria uma longa noite.

NÃO LEMBRO EXATAMENTE a data da segunda vez que o vi, acho que foi aproximadamente uns 5 ou 6 dias depois daquele incidente. Ele estava igualmente lindo, bem do outro lado da calçada. Não havia me visto. Corri para o outro lado e fui atrás dele, num impulso.
- Sei que não esperava mais me ver - disse, gentilmente. - Mas, olá - ele me olhou assustado e eu logo emendei: - Queria me desculpar por aquela noite, eu não estava "normal", não quero que pense que sou aquele tipo de mu... - ele me interrompeu com uma cara estranha e logo gelei, só percebi naquele momento que nem seu nome eu sabia e que deveria parar de agir por impulso.
- Eu conheço você? - ele disse cada palavra devagar, como se eu tivesse algum problema mental.
- Cla... claro que sim - gaguejei. - Eu, bêbada. Você, querendo me ajudar. A encomenda da sua mãe. Seu telefone - vi que estava fazendo papel de idiota. - Olha, esquece. Eu nem deveria ter atravessado essa rua. Finja que vo... - seu semblante iluminou-se.
- Ah, você, aquela estressadinha! Claro! Como pude não lembrar de você? Por que não me telefonou?
- Porque eu não te conheço... - sugeri. - Nem seu nome eu sei.
- John, prazer. Então - ele pensou, - que tal fingirmos que nos conhecemos agora? Eu ia na casa de um amigo, mas ele entenderá minhas circunstâncias. Vamos tomar um sorvete.
Não pude resistir aquele convite. Meu coração batia tão rápido, que, talvez, achei que ele pudesse ouvir. Sentia-me uma adolescente. Nos meus 23 anos, eu não tive muita experiência. Umas paixonites aqui, outras ali, mas nada que realmente me interessasse por muito tempo.
- Não sei se estou fazendo a coisa certa, mas aceito, sim.

DEPOIS DAQUELE PASSEIO, encontramo-nos diversas vezes, eu começava a conhecê-lo melhor e acabava ficando cada vez mais apaixonada. Até que, em uma noite de inverno, fazendo não muito tempo que o conhecia, não aguentei mais e cedi. Tornei-me dele, e ele, meu. Duas almas num só corpo. Tudo parecia tão perfeito, que assustava. Até que a perfeição, de um dia para o outro, evaporou.


NUNCA ESQUECEREI AQUELE dia enquanto viver. Acordei e o lugar ao lado da cama estava vazio. Escutei-o falando ao banheiro. Levantei, meio tonta, e fui verificar do que se tratava. Encostei bem ao lado da porta e o escutei falar ao telefone.
- É claro amor, eu também te amo. Pode ficar tranquila. Prometo que assim que sair daqui do trabalho, passo aí, juro que não tinha esquecido do meu compromisso com você. Anotei até na agenda, "sábado pela manhã, cinema, junto com a Mary, meu amor." E também levarei seu presente de aniversá... - nesse momento ele percebeu que eu estava olhando e ficou incrédulo. Acabou a frase e logo despediu-se, terminando o telefonema.
Eu não me mexi, não arredei um pé dali até assimilar bem as coisas. Era muita coincidência: Mary, era o primeiro nome da minha prima; hoje era o seu aniversário, tanto que já tinha o seu presente; ela me falara ontem à noite para não atrasar, porque tinha marcado cinema com o noivo. Já estava tão acostumada com decepções amorosas que apenas disse um "Canalha!" quase inaudível e fui juntar minha coisas para sair logo dali. Respirar o mesmo ar que ele iria me asfixiar.
- Espera! - ele logo gritou - Eu posso explicar!
- É claro que você pode, mas eu não tenho tempo. Já entendi tudo. Você é como os outros.
- Mas - ele me segurou pelo braço, - eu amo você.
- É claro que ama! Você me ama, ama minha prima, você ama todas!
- Não é bem assim. Olhe pra mim, Catherine - ele segurou meu rosto e eu não pude deixar de notar que era a primeira vez em que pronunciava meu nome completo - eu juro para você, juro com todas as forças, que eu ia acabar tudo com a sua prima hoje, nesse cinema. Você deve conhecê-la bem, até melhor que eu, e entende como ela se magoa fácil e, bem, eu não quero machucar ninguém. Mas acho que já levei essa história longe demais.
- Você acha??? É óbvio que você foi longe demais. Por que não me contou? Eu... eu não posso acreditar que conseguia ficar comigo, enquanto estava noivo da minha própria prima. Você não tem coração ou o quê?
- Eu tentei contar para você! Mas, quando eu te olhava, eu desistia, simplesmente não conseguia. Achei que, quando acabasse com sua prima, tudo iria ficar bem e eu não precisaria te magoar.
- Como sempre, você achando demais. E você esconderia isso de mim para o resto da vida? Olha, essa conversa já está ficando muito longa. Tudo isso já foi longe demais. Tenho que lidar com os fatos, eu não tenho sorte no amor. Quando penso que encontrei a pessoa certa... Esqueça que um dia me conheceu, e que um dia trocamos qualquer palavra, que eu farei o mesmo.
Saí antes de me render e acreditar que o que ele dizia era realmente verdade; mesmo que fosse, eu não poderia ter a cara de pau de continuar com aquilo, de me conformar com a situação. Por mais desesperada que estivesse. Ao sair, percebi que estava um caco. Não só por fora, pela aperência matinal; mas também por dentro. Queria somente sentar e chorar, mas não o faria, não com toda aquela gente olhando. Corri para refugiar-me em casa, onde as quatro paredes isolavam-me do mundo.


JÁ PASSAVA DAS 2 HORAS da tarde quando a Mary chegou. Eu, sinceramente, não acreditei quando ela, feliz da vida, sentou-se ao meu lado e jogou "Cathy, você não acredita, vou me casar daqui a uma semana!" Tentei não aparentar extrema surpresa, apenas disse com todo entusiasmo forçado que consegui: "Que bom. Mas já?". " O John é o homem da minha vida", ela sentenciou e não sabe quanto chorei por isso à noite.
Como assim ela iria casar? Hoje mesmo pela manhã ele disse que me amava, que ia deixá-la. Como homens podem mudar seus sentimentos tão rápido assim? Ou pior, será que os sentimentos que ele dizia existir, realmente existiam? Minha cabeça não parava de martelar perguntas sobre isso. Peguei o telefone centenas de vezes para falar com o John e interrogá-lo, centenas. Das duas, uma: ou realmente o que ele disse hoje pela manhã era verdade, e ele resolveu desistir de mim e ficar com a "segunda opção", ou seja, a Mary; ou tudo que ele disse era mentira, e eu apenas estou perdendo meu tempo pensando nele o tempo inteiro. Uma dessas alternativas têm de ser verdadeira, porque a opção mais sensata (ficar com nenhuma de nós), ele não fez.


OS DIAS PASSAVAM e o casamento se aproximava. Eu não sabia o que fazer. Aquilo estava me consumindo. Além de ser injusta com a Mary, por não contar a verdade para quem me deu abrigo, estava sendo injusta comigo, que não aguentaria ver os dois casados e, possivelmente, aqui, na "minha" casa, porque a Mary já havia me dito "homem nenhum, Cathy, vai lhe tirar daqui de dentro". Ou será que ela me deixaria morando aqui, sozinha? Uma coisa era certa: algo devia ser feito. Contanto, como é da minha natureza, eu não fiz nada. E o dia do casamento chegou, como todos os outros dias chegam. E aí vocês já conhecem meu dilema: interromper a cerimônia, contar toda a verdade que a Mary deve saber e tirar esse peso de mim de uma vez por todas, ou deixar pelo menos uma pessoa sair feliz nessa história?
A hora dos votos começava a chegar, eu PRECISAVA me mexer, pelo menos uma vez na vida. Como era madrinha, estava no altar. De lá, vi pessoas começando a chorar. Olhei para o noivo. Um impulso me tomou:
- Espere, seu padre! - gritei e todos, em uníssono, olharam para mim. - Antes dessa cerimônia continuar, eu preciso expor uns fatos, e a noiva decidirá se, mesmo sabendo de tudo, ela continuará querendo casar ou não.
- Cathy, o que é isso? - ela me perguntou, espantada.
- Mary, você me deu abrigo e lhe agradeço por isso, mas não conseguiria morar no mesmo teto que você carregando esse peso. Eu vou ser direta e breve: eu conheci o John há uns dias atrás. Naquele dia que eu cheguei bêbada em casa, e que você me repreendeu por isso, ele havia me encontrado tombando na rua e quis me levar para casa, mas quando dei meu endereço, e ele viu que era o mesmo que o seu, ele desconversou e inventou qualquer desculpa. Uns dias depois, eu o encontrei na rua e resolvi me desculpar, e acabamos tomando sorvete juntos e nos encontramos diversas outras vezes. Mas, eu juro para você, eu não sabia que era o mesmo John. Até que há uma semana atrás, no dia do seu aniversário, escutei uma conversa dele com você ao telefone e descobri tudo. Depois disso, eu não o vi mais até o dia de hoje. E isso é tudo. Só falei para tirar esse peso da minha consciência e ser honesta com você, que me é tão especial.
Quando acabei de falar, percebi que todos estavam incrédulos e um silêncio tenso havia tomado conta da igreja. No momento em que falava, esqueci da presença de todos. Olhei para ele, e sua aparência era indecifrável. Pareceu não se abalar com nada do que eu disse.
- Cathy, eu já sabia. - ela me disse, calmamente, quase gargalhando da minha cara.
- Como assim você já sabia? - indaguei.
- O John já me contou.
- E como você pode casar com ele sabendo que ele te traía comigo?
- Eu o perdoou.
- Mas, mas...
- "Mas" o quê? Você acha que eu sou idiota, Catherine? Eu não sou como você, ingênua e pura, com tamanha idade, achando que um príncipe mais puro ainda chegará e te fará a primeira mulher da vida dele, e vocês ficarão juntos até a eternidade. Eu não sou a primeira mulher do John, e o fato de você ter ficado com ele, somente por ser minha prima, não muda nada. Agora, seu padre, pode continuar, por favor.
Não consegui segurar as lágrimas que teimavam em cair. Ele virou a cara quando quis encará-lo, concordando com tudo que a Mary disse. Sentia-me a mais completa das idiotas. Tantas disputas internas para contar algo que eu achava crucial e ela já sabia de tudo, e mais, achava completamente banal.


NUNCA MAIS OS VI. Quando o casamento acabou, fui para casa e arrumei tudo que era meu, o que não era muita coisa. Tinha um dinheiro guardado, já que não gastava muito comigo e sempre sobrava do meu salário. Aluguei uma casa não muito longe dali. Achei que meu final ia ser triste. Entretanto, não demorei muito para encontrar a pessoa certa, finalmente, para mim. Mudamos de cidade e, até hoje, não poderia ser mais feliz do que sou. Tenho 3 filhos lindos e a mais velha casa hoje, por isso lembrei disso.
A vida é uma dádiva preciosa e surpreendente. Sempre acontecerá o que deveria acontecer, não o que achamos/queremos que aconteça.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sou seu alfabeto inteiro


Sou o pingo do seu i
a curva do seu l
as duas pernas do seu n
e as três pernas do seu m

Sou as duas cavidades do seu w
o traço horizontal do seu t
o ponto convergente do seu k
o som aberto do seu a

Sou o chapeuzinho do seu o
o cruzamento do seu x
a voltinha do seu c
a forma arredondada do seu g

Sou o nó do seu f
a abertura do seu u
o zigue-zague do seu z
o traço-apoio do seu d

Sou o seu alfabeto inteiro
sou o s da sua sinceridade
sou o v do seu jeito verdadeiro
sou seu alfabeto, seu alfabeto inteiro

Quero agradecer as que foram fundamentais para o acabamento deste poema: Amanda, Gleice, Nathália e Any. Obrigada, gente. Nem ficou tão feio assim.