domingo, 30 de outubro de 2011

Tudo que fui


Sou orgulhosa demais para perdoar, geniosa para esquecer e inteligente o suficiente para voltar a ser tudo que fui um dia, antes de você me aparecer.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

De repente, não mais que de repente



SONETO DE SEPARAÇÃO

Vinícius de Morais

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

domingo, 23 de outubro de 2011

Um clássico!

"Ora, o tal bichinho chamado amor é capaz de amoldar seus escolhidos a todas as circunstâncias e de obrigá-los a fazer quanta parvoíce há nesse mundo. O amor faz o velho criança, o sábio doido, o rei humilde, cativo; faz mesmo, às vezes, com que o feio pareça bonito e o grão de areia um gigante. O amor seria capaz de obrigar um coxo a brincar o tempo-será, a um surdo o companheiro companhão e a um cego o procura quem te deu." (p.117)

"O amor é um azol que, quando se engole, agadanha-se logo no coração da gente, donde, se não com jeito destravado, por mais força que se faça mais o maldito rasga, esburaca e se aprofunda."(p.120)

"Tudo neste mundo é mais ou menos compensado; o amor não podia deixar de fazer parte da regra. Ele, que de um nadazinho tira motivo para prazer de dias inteiros, que de uma flor já murcha engendra o mais vivo contentamento, que por um só cabelo faz escarcéus tais que nem mesmo a sorte grande os causaria, que por uma cartinha de cinco linhas põe os lábios de um pobre amante em inflamação aguda com o estalar de tanto beijos, se não produzisse também agastados arrufos, às vezes algumas cólicas, outras amarguras de boca, palpitações, ataques de hipocondria, pruído de canelas, etc., seria tão completa a felicidade cá embaixo que a terra chegaria a lembrar-se de ser competidora do céu." (p.123)
A Moreninha - Joaquim Manuel de Macedo

Eu, realmente, subestimei o livro A Moreninha. Quando comecei a lê-lo, as pessoas me perguntavam o que estava a achar, e eu sempre dizia "é meio chatinho". Na realidade, como o livro é bastante antigo (foi lançado em 1844 e é considerado o primeiro romance da literatura brasileira), é meio difícil de se inserir no enredo, principalmente porque o livro está cheio de expressões da época e palavras que entraram em desuso há muito tempo. E muitas expressões em francês, também.
Esse romance, inicialmente, foi dividido em capítulos e publicado em folhetins, e alcançou grande repercussão, já que (segundo eu li) a leitura era de fácil compreensão e as pessoas que pouco estudaram também entendiam.
Eu tenho esse livro desde os meus 10, 11 anos de idade. Lembro que comecei a lê-lo mas não passei das primeiras páginas, não estava entendendo nada e achava a história muito chata. Um dia desses, arrumando umas coisas, achei-o e lembrei-me da sua existência. Lá vai eu começar a devorá-lo.
No começo, eu, pelo menos, estava achando tudo muito cansativo. São muitos diálogos e o autor alonga demais uma história que poderia ser resumida em 2 páginas. O essencial só vai acontecer nas últimas folhas do livro e remete a um acontecimento lá do início, que eu nem lembrava direito. Mas foi justamente esse fim que mudou minha opinião. O Joaquim Manuel de Macedo consegue dar um final maravilhoso à obra, e, principalmente, o final é feliz. Sem conflitos e vilões! O legal é que quando eu estava na antepenúltima página, não via como àquilo poderia terminar bem (eu já tinha lido em algum lugar que, no final desse livro, tudo ia dar certo), e daí vem a surpresa.
A leitura, quando vai chegando ao fim, é super melosa (a minha cara)! Podem notar que essas frases do início da postagem são do final do livro.
A leitura é super recomendada, tanto para os que gostam de ler sobre amor, quanto para os que querem conhecer um pouco mais sobre o Brasil do século XIX.

sábado, 22 de outubro de 2011

Contagem regressiva

Gotas. Gotas de água da chuva caíam como a timidez de uma criança em lugar estranho. O tique-taque enlouquecedor do relógio não a deixava pensar. Podia-se ouvir ao longe gargalhadas. O ano novo estava chegando. E com ele, a mesma vida de sempre.
A janela aberta deixava entrar um vento gélido, que a entorpecia. As mãos frias lutavam para aquietar os cabelos, que pareciam querer voar longe dali.
Cinco: ele a presenteara no seu aniversário; quatro: diferente de muitos, ele aparentava ter um cérebro; três: era o único que a entendia; dois: talvez seu "eu te amo" fosse verdadeiro; um. Fogos de artifício explodiram no ar. O ano novo chegou. Veio também a certeza. E ali, assim, ela soube que sim, amava-o.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

12 de outubro

Desenhar as nuvens azuis e o céu branco e não se importar com isso. Chorar por uma coisa que você sabe que seus pais não podem comprar. Assistir desenhos quando não se tem nada mais a fazer. Beijar sua mãe na frente de quem quer que seja. Preocupar-se com a pintura que não saiu perfeita, com a água gelada do banho e com os legumes do almoço. Ter sempre no rosto um sorriso inocente, de quem não compreende a vida mas sabe aproveitá-la como ninguém.
Criança... saudades de quando era uma.

"Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança."
Victor Hugo