domingo, 22 de abril de 2012

No Recreio

Toca o sinal, recreio. Crianças descendo as escadas rapidamente, segurando fortemente as moedas com a mão, impedido-as de cair. Bancos sendo ocupados rapidamente. Burburinho por todas as partes, pessoas ávidas por pôr o que quer que seja em dia. Alguns com livros, outros aos beijos.
Era o dia do acerto de contas para ele. Quando se tem 10 anos, é comum brigar por qualquer besteira facilmente esquecível e resolver de acertar tudo na hora do recreio, como valentão que não se é.
Com a escada já meio vazia, lá vinha ele. Deixou-se cair em um lugar qualquer, querendo não ser visto, coisa que não adiantou.
O grupo dos espectadores já tinha sido avisado: haveria briga. Formou-se um enorme círculo mal feito e logo o puxaram para o meio. Como em luta de boxe, primeiro as instruções foram dadas. Os seus amigos, que estavam ao seu lado, falavam rapidamente ao seu ouvido, cuspindo as palavras em sonoros gritos difíceis de entender. 
"Você é o cara!"
"Mostra a ele como é que se faz!"
"Não deixa isso barato, não!"
"Lembra do que ele lhe disse!"
"Pega ele!"
"Mostra a ele com quem foi que se meteu!".
Ele, coitado, respondia a tudo com um "deixa comigo...", mas, ao mesmo tempo, sussurrava bem baixinho, para si mesmo, engolindo choro, "eu quero a minha mãe".

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Correspondência

Não iria olhar, não iria!
Bastaria um olhar para ele perceber tudo que ainda sinto. Olhar era algo fora de cogitação. Ele que acabou com tudo, ele que merecia sofrer. Não eu. 
Nem em sonho ele poderia desconfiar que, algo aqui dentro, ainda batia forte quando ouvia seu nome.
Mas, às vezes, você enfraquece, percebe que não está mais tomando conta de si e que outra força, desconhecida, age sobre sua consciência. Nessas vezes, você faz o que não faria se estivesse plena.
Quando isso aconteceu, fui mais fraca que a força e olhei.
Surpresa, vi que ele também me olhava.