quinta-feira, 20 de junho de 2013

Não fui às ruas

Esse poder revolucionário que tomou conta do Brasil também tomou conta de mim. Acho que todos nós estávamos cansados. Os vinte centavos foram o estopim de que precisávamos - e quem dera se eles tivessem vindo antes, digo até. O Brasil inteiro, finalmente, acordou de um sono longo e profundo, tomou às ruas e começou a lutar pelos seus direitos mais básicos. Isso é democracia: não ficar impassível aos descasos. Era só ver os primeiros protestos na TV para eu pensar que talvez ainda haja solução. 
Apesar da minoria com titica na cabeça que resolveu protestar achando que sabia como, a coisa toda me é linda demais. E eu fico imaginando como podemos fazer coisas grandes quando queremos. É bom saber que podemos levar milhares de pessoas às ruas, chamar atenção da mídia internacional, ter nossas exigências atendidas. 
Foi com o coração partido em pedaços bem miúdos que eu não fui ao protesto hoje. Minha mãe não é uma pessoa muito fã de coisas ditas "perigosas" assim. Insisti feito louca, mas ela bateu o pé e disse não. E quando minha mãe bate o pé, a situação está perdida. 
Acompanhei todo o desenrolar da coisa em casa. Também vi a já citada minoria com titica na cabeça fazer besteira, como era provável que acontecesse. E não acho que esses atos de vandalismo (os mais noticiados pela mídia, vejam só que coisa) façam a luta ser menos importante do que é. Tem gente honesta protestando sim, mas tem babaca também. Mas não esqueçamos do fato de que existem babacas em todos os lugares.
Só queria mesmo deixar claro e por escrito que eu apoio veementemente e também faço parte da luta, não fui às ruas por motivos de causa maior (sim, mães são causas maiores, afinal), mas acho que já estava na hora de mudar o sistema. Um governo para e pelo povo, senhores políticos, façam a gentileza. 

filho teu não foge à luta, Brasil

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sou feminista


Percebi que, ultimamente, tenho falado de coisas muito importantes para mim. Diria até que coisas importantes e complicadas demais para alguém com a minha idade (como aqui e aqui). E agora venho falar de coisa importante novamente. O que eu posso fazer se são coisas assim que passam pela minha mente? 
Não vou dizer que sou expert no assunto, porque feminismo é uma coisa nova para mim. Há só mais ou menos um ano que eu vim começar a ler e a entender sobre a luta das feministas. Eu já guardava comigo alguns questionamentos, já dizia para quem quisesse ouvir que eu não ia ser dona de casa coisíssima nenhuma, que não ia viver em função do meu marido. Tá com fome? Cozinhe. Tá achando a casa suja? Limpe, ué. Principalmente porque eu odeio mais que tudo tarefas domésticas e estou muito bem assim, muito obrigada. Também notei logo a falta de personalidades femininas nos livros da escola. Cadê as físicas? As químicas? As biólogas? Em que lugar elas estavam que não descobriram nada para a ciência? E, veja bem, a nossa sociedade é tão nitidamente machista nesse sentido, que ao menos a palavra "gênia" existe. Por isso a necessidade do feminismo. Mas o que é isso, afinal?
O feminismo é, basicamente, a luta das mulheres por igualdade em todos os âmbitos da sociedade. A luta por liberdade, por direitos. O resto que se vê por aí é simplesmente bagunça. Feministas não praticam a misandria, o que é meio óbvio, já que elas lutam por igualdade e não seria igualdade se um sexo tentasse se sobrepôr a outro; feministas não são necessariamente lésbicas, a opção sexual não tem nada a ver nessa discussão: você luta a favor das mulheres? Você não concorda com a sociedade patriarcal de hoje? Independentemente da sua opção sexual, você é uma pessoa feminista; não é uma luta só das mulheres, existem vários homens que querem ver as mulheres sendo tratadas exatamente da mesma forma que eles, porque, além das diferenças biológicas básicas, não somos diferentes em nada e temos a mesma capacidade.

 

Assim como toda ideologia, existem subgrupos dentro do feminismo. Algumas mulheres são extremamente radicais, já outras - como eu -, talvez por ainda serem inexperientes, ainda se encantam com um homem dito "cavalheiro", mesmo sabendo que não deveriam. Cavalheirismo é machismo. O homem não abre a porta, puxa a cadeira ou leva as compras para você porque ele é gentil, ele o faz pensando em recompensas, sempre com segundas intenções. Ou você acha que ele puxa a cadeira para o amigo sentar? Nós, mulheres, não precisamos disso. Podemos muito bem pagar a conta do jantar sozinhas, não somos mais frágeis, mais delicadas do que eles, somos iguais.

Já vi muito.

Eu sou a favor da descriminalização do aborto, como acho que a grande parte das feministas são. Devo confessar que eu, particularmente, não abortaria. Mas defendo o direito e a vontade das outras mulheres. O corpo é delas. A vida é delas. Quem sou eu para dizer "você não pode!"? Que criança nascerá dessa gestação não desejada? 
Aborto é crime no Brasil, mas isso não faz com as mulheres deixem de abortar. Muitas morrem em clínicas clandestinas, com gente despreparada. Que tal legalizar? O número de abortos não vai diminuir, mas o número de mulheres mortas sim. Feminista é sim a favor da vida, afinal, a favor da vida da mulher! É contra o aborto? Sua religião diz que é pecado? Ótimo, não aborte. É simples, gente.
Uma vez eu vi uma imagem que dizia algo tipo "quer irritar uma feminista? Diga-lhe que é mãe" e eu juro que não entendi. Eu quero demais ser mãe e nem por isso deixo de ser feminista. Só quero um mundo mais igualitário, onde as mulheres sejam tratadas como pessoas, onde as suas vontades sejam respeitadas. Será que se fosse o homem que engravidasse, e não a mulher, estaríamos tendo essa controvérsia?


Menos da metade das mulheres são feministas. Ou seja, é uma corrente feita para as mulheres, lutando a favor de melhorias na vida das mulheres, despindo a mulher da ideia de ser unicamente útil para reprodução, mostrando que as mulheres são tão igualmente capazes como os homens, querendo que o sexo feminino seja levado a sério nessa sociedade: que mulher não seja julgada por não seguir os padrões de beleza impostos, que mulher não seja tratada como mero objeto de deleite masculino, que as tarefas domésticas e a criação de filhos seja realizada pelo casal e não só pela mãe, que a mulher não seja julgada por escolher profissões "de homens", é uma corrente feita para acabar de uma vez com o machismo da sociedade, com a ideia de que o homem é superior à mulher, é uma corrente criada para dar à mulher aquilo que lhe foi negado por milhares de anos e sim, você leu certo: MENOS DA METADE das mulheres são feministas. É como se você desse dinheiro a alguém pobre e ele simplesmente jogasse fora. 
Sou feminista, mas esse é um processo lento de construção. Vivemos tão presos às amarras patriarcais que sequer damos conta quando fazemos/dizemos algo machista. Contudo, desde o dia em que eu li sobre o feminismo pela primeira vez, vou crescendo um pouco, aprendendo mais. É assim mesmo: um degrau de cada vez. Quem sabe, um dia, eu atinja o topo da escada.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Se não desse errado, não seria eu

Se não fosse a infância solitária, o medo do escuro e as minhas bonecas que eu carregava como filhas, não seria eu. Se não fosse o meu jeito de não só amar, mas amar desesperadamente e querer que sempre me digam o quanto me amam de volta, não seria eu. Se não fossem as minhas notas boas, o meu amor pela leitura que veio aos 13 ou então os infinitos ídolos que tive durante a vida, não seria eu. Se não fossem os resfriados pegos com imensa facilidade, a minha mãe sempre preocupada, os joelhos ralados e as unhas quebradiças, não seria eu. Se não fossem os apelidos e, consequentemente, as lágrimas; se não fossem as paixões não correspondidas, a carta rasgada, o diário que eu tenho desde os 11, não fossem meus planos de viajar para Canadá e lá morar, não seria eu. Se não fosse a minha falta de jeito com bebês, os aparelhos que eu tive de usar, os conselhos que eu dou e nunca uso, não seria eu. Se não não fossem as segundas, as três espiãs demais e os professores de natação que nunca conseguiram me ensinar a nadar, não seria eu. Se não fossem as Caprichos, as cocadas, o medo de insetos e o laptop da Xuxa, eu sei que eu não seria eu. Se não fossem as minhas cartas para o Papai Noel, a batida na porta que rachou minha testa, as promessas que me fizeram e nunca cumpriram, não seria eu. Se não fosse a minha mania de falar demais, as choradeiras em cada fim de novela, minha vontade de mudar o mundo, não seria eu. Se não fossem as horríveis aulas de educação física, meu rápido apego às pessoas, os livros da biblioteca, não seria eu. Se não fosse a minha caneta roxa roubada, as agendas que eu nunca lembro de preencher, se não fosse a Clarice com suas músicas, não seria eu. Você pode tentar me fazer sentir culpada, mas não perca seu tempo. Eu não perdi o meu tentando rimar. 

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Saudades, infância, saudades...

Quem me indicou o meme foi a Larie e ele foi baseado numa das músicas mais fofas da Terra, Capitão Gancho, da Clarice Falcão. Tornou-se um meme tão popular entre os blogs que eu não consigo pensar em ninguém que ainda não o tenha feito. Então, eu o indico para qualquer um que se interessar, sintam-se à vontade.

domingo, 2 de junho de 2013

Emagrecer para quê?

Numa certa época, e acontece com todos, mesmo que em diferentes estágios da vida, o cuidado com a aparência aparecerá. Talvez por todos ao seu redor estarem cuidando das suas aparências, talvez por causa de alguma paixão. Enfim, chegará a época em que você olhará bem no espelho e se perguntará: eu sou bonita? Ou, quem sabe, pior ainda: eu sou magra?
Vejo muito falso moralismo por aí. As pessoas gostam muito de dizer que não ligam para aparências, magina!, isso não é importante, mas passam horas e gastam fortunas para manter suas vaidades. Vivem dizendo que o importante é a beleza interior, mas não fazem nada para cultivar a sua. Sempre se preocupam com o lado de fora, sempre.
Daí venho eu, querendo trazer alguma lógica para o mundo, e digo: não, não quero emagrecer. Já quis, sim. Hoje não mais, somente porque não faz sentido. Por que irei eu, que não tenho nenhum problema de saúde, querer perder minha companheira gordura? Por que eu me matarei de exercitar e me privarei das coisas que mais gosto de comer? Só pra ter o corpo das mocinhas da novela? Ah, por favor, né.
Sou melhor que isso. Nós somos melhores que isso. Não há problema nenhum em ser gordo (desde que isso não esteja interferindo na sua saúde, só deixando claro). Se eu gastar meu precioso tempo tentando entrar num manequim 36 é como se eu concordasse com o que a sociedade doentia em que vivemos nos impõe, e eu não concordo, definitivamente não.
As pessoas têm o errôneo pensamento de que, com dez quilos a menos, todos os seus problemas irão embora junto com a gordura. Talvez com menos peso algumas portas se abram, sim, mas isso não tornará a pessoa mais feliz e nem muito menos sem problemas.
Eu digo isso porque, quando coloquei minhas lentes de contato, nossa, foi o máximo. Achei ingenuamente que tudo iria mudar. Que nada! Está tudo igual. E por quê? Porque a Luana que eu sou não mudou. A aparência mudou.
Para mim, se é para perder tempo, que seja aprendendo a gostar de si do jeito que se é. E não tentando mudar, como se quem você é não fosse bom o suficiente. Se é para perder tempo, que seja aperfeiçoando as suas particularidades, e não acabando com elas porque "dizem por aí" que elas não servem. Se é para perder tempo, que seja escrevendo o conteúdo do seu livro, e não enfeitando demais a capa.
Não digo que é fácil, ainda mais quando todos ao seu redor estão demasiadamente preocupados com seus corpos. Peço desculpas à sociedade por não almejar os objetivos que ela me prega, mas quero pelo menos tentar transformar esse mundo num lugar mais agradável de se viver. Por que, afinal, para que eu vou querer me parecer com as mulheres que saem nas capas de revista se quando quem eu sou já é perfeitamente bom?

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