Até pode ser coincidência ou loucura do meu subconsciente, mas às vezes tudo que eu vejo, ouço ou sinto, de alguma maneira, reforça alguma coisa que temo. Vou explicar melhor: às vezes o mundo inteiro decide conspirar contra você. A calça 42 que ficava folgada antes e agora cabe perfeitamente te faz lembrar que a escolha de não emagrecer foi sua e que as consequências surgirão, e de um jeito estranho o mundo inteiro decide falar disso: as tias comentam, as músicas tocam, o jornal fala de sedentarismo, um dos seus colunistas preferidos resolve escrever sobre alimentação, até o latido do cachorro tem um quê irônico que parece estar te recriminando por ter dito que se exercitaria no ano que acabou de começar e até agora nada. Referências diretas não são feitas, é verdade, mas em cada entrelinha parece existir alguma menção às suas promessas não cumpridas ou aos seus medos. Parece que existe um exército infalível e invisível que arranja as coisas de modo tão perfeito que te deixa sem provas palpáveis, e tudo que você pode fazer para manter sua sanidade é esquecer e dizer a si mesmo que todos nós guardamos uma parte louca conosco.
Quando eu digo que eu sou a mais velha das minhas amigas, costumam rir. Pode parecer que não é grande coisa para os outros, mas eu sou a primeira sempre: fui a primeira a completar 15, a primeira a tirar o título eleitoral, vou ser a primeira a completar a maioridade, a tirar a carteira de motorista, a entrar na temida casa dos trinta. Perto de ser a primeira a completar 17, minha amiga me fez uma pequena observação nada acalentadora: Luana, você já tem quase vinte! E, desde então, caras pessoas, tudo parece confirmar esse fato.
Olho diferente, agora, para os atendentes que pensei que me chamavam de senhora só por educação. A minha tia, que sempre foi categórica em dizer que eu nunca perderia minha cara de menininha, resolveu mudar de ideia nesse domingo e dizer que eu estou crescendo. Mesmo sendo a coisa mais óbvia do mundo [crescer], percebi que esse ano termino o Ensino Médio e eu mesma me peguei pensando como estou crescida e me perguntando como a minha vida passou assim tão rápido feito carro de fórmula 1. Meu pediatra, que me acompanhava há alguns anos, não poderá mais me atender, ele só tem pacientes menores de 16. Se não bastassem todas essas evidências que a vida me jogou na cara, hoje eu abro uma notícia, como quem não quer nada, e descubro um arredondamento macabro: em 1996, há quase vinte anos. QUASE VINTE ANOS. Sério?
Fico pensando em todas as possibilidades existentes para esse momento de frustração não ter ocorrido: eu poderia ter acordado uma hora mais tarde, eu poderia ter ido ler um livro, eu poderia ter ido escrever, eu poderia não ter aberto o Facebook, eu poderia estar jogando Candy Crush, MAS NÃO. Eu estava naquele lugar cibernético, naquele momento exato e, por motivos que eu adoraria saber quais são, achei essa notícia interessante o bastante para clicar em cima e ler. Ou seja, se isso não é o mais alto nível de coincidência, a vida está de brincadeira comigo. Porque não basta você se lembrar de que está envelhecendo todos os dias, os outros têm de reforçar sua memória. Nesse momento, é só contar até dez e imaginar o sábio Oscar Wilde sussurrando ao seu ouvido: a vida é muito importante para ser levada a sério, Luana.