sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O mundo está contra mim

Até pode ser coincidência ou loucura do meu subconsciente, mas às vezes tudo que eu vejo, ouço ou sinto, de alguma maneira, reforça alguma coisa que temo. Vou explicar melhor: às vezes o mundo inteiro decide conspirar contra você. A calça 42 que ficava folgada antes e agora cabe perfeitamente te faz lembrar que a escolha de não emagrecer foi sua e que as consequências surgirão, e de um jeito estranho o mundo inteiro decide falar disso: as tias comentam, as músicas tocam, o jornal fala de sedentarismo, um dos seus colunistas preferidos resolve escrever sobre alimentação, até o latido do cachorro tem um quê irônico que parece estar te recriminando por ter dito que se exercitaria no ano que acabou de começar e até agora nada. Referências diretas não são feitas, é verdade, mas em cada entrelinha parece existir alguma menção às suas promessas não cumpridas ou aos seus medos. Parece que existe um exército infalível e invisível que arranja as coisas de modo tão perfeito que te deixa sem provas palpáveis, e tudo que você pode fazer para manter sua sanidade é esquecer e dizer a si mesmo que todos nós guardamos uma parte louca conosco. 

Quando eu digo que eu sou a mais velha das minhas amigas, costumam rir. Pode parecer que não é grande coisa para os outros, mas eu sou a primeira sempre: fui a primeira a completar 15, a primeira a tirar o título eleitoral, vou ser a primeira a completar a maioridade, a tirar a carteira de motorista, a entrar na temida casa dos trinta. Perto de ser a primeira a completar 17, minha amiga me fez uma pequena observação nada acalentadora: Luana, você já tem quase vinte! E, desde então, caras pessoas, tudo parece confirmar esse fato.

Olho diferente, agora, para os atendentes que pensei que me chamavam de senhora só por educação. A minha tia, que sempre foi categórica em dizer que eu nunca perderia minha cara de menininha, resolveu mudar de ideia nesse domingo e dizer que eu estou crescendo. Mesmo sendo a coisa mais óbvia do mundo [crescer], percebi que esse ano termino o Ensino Médio e eu mesma me peguei pensando como estou crescida e me perguntando como a minha vida passou assim tão rápido feito carro de fórmula 1. Meu pediatra, que me acompanhava há alguns anos, não poderá mais me atender, ele só tem pacientes menores de 16. Se não bastassem todas essas evidências que a vida me jogou na cara, hoje eu abro uma notícia, como quem não quer nada, e descubro um arredondamento macabro: em 1996, há quase vinte anos. QUASE VINTE ANOS. Sério? 

Fico pensando em todas as possibilidades existentes para esse momento de frustração não ter ocorrido: eu poderia ter acordado uma hora mais tarde, eu poderia ter ido ler um livro, eu poderia ter ido escrever, eu poderia não ter aberto o Facebook, eu poderia estar jogando Candy Crush, MAS NÃO. Eu estava naquele lugar cibernético, naquele momento exato e, por motivos que eu adoraria saber quais são, achei essa notícia interessante o bastante para clicar em cima e ler. Ou seja, se isso não é o mais alto nível de coincidência, a vida está de brincadeira comigo. Porque não basta você se lembrar de que está envelhecendo todos os dias, os outros têm de reforçar sua memória. Nesse momento, é só contar até dez e imaginar o sábio Oscar Wilde sussurrando ao seu ouvido: a vida é muito importante para ser levada a sério, Luana. 

sábado, 18 de janeiro de 2014

Como eu mudei

Ou: como eu não vejo graça na queda alheia

Hoje, com 17 anos, se me perguntarem como é ter essa idade, vou responder que é como ter 16, e ter 16 é como ter 15, que é como ter 14, que é igual a ter 13... Só que quando eu me lembro de quando tinha 13, vejo que muita coisa mudou nesses quatro anos e não sei explicar o paradoxo da mudança que não é mudança. Entre as coisas que mudaram na minha vida no decorrer desses anos, está o fato de eu não mais assistir à televisão. Às vezes eu vejo umas partes do Fantástico, ou acompanho o Jornal Nacional, mas é só. A programação televisiva brasileira (pelo menos a da TV aberta) me dá náuseas e me faz desacreditar na possibilidade de um futuro melhor, porque, afinal, as nossas crianças estão assistindo programas como, por exemplo, o Domingão do Faustão. E é especificamente sobre este último que eu quero falar. 

Eu sinceramente não sei como um programa se sustenta no ar por tanto tempo. A única coisa que pode explicar isso é o fato de que há, realmente, pessoas que sentam sua bunda num sofá, nos domingos à tarde, para assistir ao Faustão. Não tenho absolutamente nada contra o Faustão (apesar de achar um saco os seus bordões que deixaram de ser engraçados faz muito tempo e o seu uso exaustivo do adjetivo "glorioso(a)" para se referir a qualquer um), ele faz apenas o seu trabalho. Acontece que, ao meu ver, esse trabalho de "entreter" o público brasileiro está todo errado. Do começo ao fim.

Notei isso quando, esperando começar o Fantástico para assistir a uma reportagem realmente interessante, tive o desprazer de acompanhar os último dez minutos do Faustão. Estava passando as famosas videocassetadas, com gente caindo e se machucando feio, enquanto todos riam e aplaudiam, principalmente as garotas do balé. Essas últimas, então, riem abobadamente de tudo, como se não tivessem cérebro. Ficam apenas lá, paradas, sorrindo, como se fossem parte da decoração do cenário. Eu me recuso a entender esse tipo de humor. Eu sei que os vídeos que eles mostram foram provavelmente concedidos pelas próprias pessoas que filmaram (eu acho), que eles têm permissão para pôr em rede nacional o tombo dos outros, porém eu acho essa maneira de entretenimento a pior já inventada. Me faz lembrar do coliseu e da política do pão e circo... acho que, nesse aspecto, nem tanta coisa assim mudou. E continua a cena: pessoas caindo e se machucando de verdade, quebrando possíveis pernas, braços ou dentes, e as garotas do balé gargalhando, aplaudindo, como se fosse a coisa mais engraçada que já viram, e a plateia acompanhando, todos incentivados pelo Faustão com seus comentários nada gentis sobre o peso e a idade de quem protagoniza a "piada", espalhando esteriótipos para os rincões do Brasil. E olha que eu não vou nem me referir ao fato de não existir homem no balé de programas de auditório como esse, porque essa já é outra (e longa) discussão.

Percebi, então, que a Luana de 17 pode ser parecida com a de 16, mas é bem, bem, bem diferente da de 13, porque a de 13 assistia ao Faustão.

sábado, 11 de janeiro de 2014

O fim da descrença

Sleeping Sickness

Eu sempre achei que adotando a postura de pessoa pessimista quando o assunto sou eu mesma e minhas habilidades, estaria me protegendo do mundo. Eu sempre vi vestibulandos e suas altas expectativas caírem por água a baixo ao saberem que não entraram na universidade que queriam. Eu assistia àquilo e pensava que aquele choro desesperado seria meu dali a alguns anos, então, para assegurar que o fato nunca aconteceria, eu me tornei a descrença em pessoa e nunca deixei que alimentassem esperanças por mim - pelo menos não na minha frente. Doeria menos, ao meu ver. Ou aparentaria aos outros que doeu menos para mim.

Após o Enem, que eu prestei esse ano só por experiência, cheguei domingo à noite em casa emburradíssima com a minha pontuação. Mesmo leiga no assunto, achava que tinha sido horrível e que não passaria em nada. Entretanto, quando me perguntavam quantas questões eu acertei e eu dizia, faziam uma cara de espanto que eu fingia entender e me davam parabéns. E quando saíram as notas, essa segunda feira, eu juro que fiquei impressionada porque fui muito melhor do que eu pensava, do que eu tinha espalhado para os outros que seria. E foi daí que eu percebi que a descrença que eu tinha incorporado agora era real.

Apesar de todos os inconvenientes que o Enem me trouxe, como passar horas numa fila, ficar sem comer durante um domingo inteiro porque o chocolate derreteu devido ao sol e às horas na fila, me odiar por ter olhado o gabarito do primeiro dia assim que cheguei em casa (não façam isso), ter uma dor de cabeça horrenda a cada fim de prova, apesar mesmo, eu faria outra vez, já que foi devido a ele que eu descobri que eu posso fazer melhor do que achava que podia. E que se for pra chorar numa reprovação, que seja! Já que é começo de ano, uma das minhas promessas é acabar com a minha descrença e modéstia.

Já escrevi por aqui sobre a indecisão que eu tinha com relação a minha profissão futura, mas acredito já ter sanado todas as dúvidas: aqui vos fala uma futura neurologista, que, modéstia à parte, será uma das melhores do país. Eu acredito em mim.

Aguardemos mais uns anos.