quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Súplica à razão


Antes de tudo: eu não sou uma conhecedora das músicas da Selena e nem muito menos sei pormenores da sua vida artística. Mas essa música me chamou a atenção desde a primeira vez que ouvi, e pensei muito a respeito antes de escrever esse texto. A canção é, sim, agradável (pelo menos aos meus ouvidos), e das poucas composições que conheço dela, acho que se tornou a minha preferida. Entretanto, andei refletido e, apesar de todo o lirismo, acho a mensagem que se passa muito, muito errada.

Segundo, para não dar margem a nenhum desentendimento: há bilhões de músicas problemáticas. Eu poderia só escrever sobre isso a minha vida inteira. Porém, decidi escrever sobre essa música da Selena especificamente porque eu realmente gostei da música, e inicialmente não notei nada de desagradável. E é aí que se encontra o x da questão: certas coisas são tão cristalizadas que nem percebemos a princípio que tem algo errado na história. Na verdade, sou eu que estou dizendo que tem coisa errada. Pensem a respeito e julguem sozinhos.


A moça começa com um depoimento muito bem interpretado e que me dá vontade de chorar. Ao que parece, está sofrendo intensamente: age como louca (I know I'm acting a bit crazy), reza com medo de que não sobreviva (I'm praying that I'm gonna make it out alive), diz que o indivíduo a deixou despedaçada (you got me scattered in pieces) e que desaparece sem avisar (but then you'd disappear and make me wait), que todo segundo é como uma tortura (and every second's like torture) somente comaparável ao inferno (Hell won't endure no more). Todavia, contrariando todo o bom senso existente, ela avisa: não me dê conselhos, mesmo que eles sejam certos, eu não quero saber e não me importo (save your advice, 'cause I won't hear, you might be right, but I don't care). E eu só posso manifestar uma única expressão: ???

Depois ela tenta nos explicar: como viver sem o tal ser humano, né mesmo? (but I can't imagine a life without the breathless moments breaking me down). Mesmo que ele a dê UM MILHÃO de motivos para largá-lo (there's a million reasons why I should give you up), o coração dela o quer (but the heart wants what it wants), fazer o quê? E, juro, essa é a pior desculpa que alguém pode dar para corroborar a continuação de uma relação que está trazendo malefícios para uma das partes: "ah, não posso fazer nada, é coisa do coração". É passividade extrema, é falta de amor próprio e de coragem para ser feliz.

Não estou me abstendo desse mau hábito de interpretar acontecimentos da nossa realidade de maneira emocional - e não racional, como deveria ser. Muitas vezes nos alijamos do poder de decisão e deixamos nosso destino caminhar ao léu, sem interferência. Falta-nos coragem para o enfrentamento, mas ele é sempre necessário. Adoro cantar o refrão dessa música, é muito bonito: mas para filmes. Vida real é outra coisa.

Não sei até que ponto podemos tomar como verdadeiras as palavras da Selena, com certeza ela usou de alguns retoques e exageros para melhorar a canção, nada mais natural. Contudo, se eu pudesse deixar um recado para ela, se eu pudesse deixar um recado neste momento para o mundo, eu diria: se você tem um milhão de motivos para desistir de alguém, desista. Vai ser a decisão mais acertada da sua vida.