quinta-feira, 9 de maio de 2013

O que eu aprendi com os ônibus

Quando eu entrei para o Ensino Médio, ano passado, aos 15 anos, eu disse a minha mãe veementemente que não queria mais ir à escola com o carro escolar. Eu tinha meus 15 anos completinhos e, se me deixassem no centro da cidade, provavelmente eu não saberia voltar para casa. Pensando nessa situação vergonhosa, e adicionando a isso minha total falta de jeito para lidar com pessoas estranhas, já que eu sou um tiquinho antissocial, disse e não voltei atrás: quero andar de ônibus.
Não digo que não sinto falta do conforto de um carro escolar, pois eu sinto. Principalmente quando chove e especialmente quando eu preciso carregar na minha bolsa mais livros do que aguento carregar. Entretanto, não faria diferente se pudesse voltar no tempo, porque eu aprendi mais coisas do que imaginei andando de ônibus. Ah, e claro, hoje eu sei voltar para casa caso me abandonem em um lugar qualquer da cidade.
Ônibus são engraçados. Você encontra muita gente estranha. Já fui o caminho inteiro de volta pra casa com um homem do meu lado cantando em alto e bom som músicas evangélicas. Não, minto, A música evangélica. Ele repetiu tantas vezes a mesma coisa que não sei como não sonhei com a bendita música. Outro dia, sentou um homem do meu lado que não parava quieto no lugar. Não sei se ele tinha alguma coceira nas nádegas ou o quê, mas ficava levantando, sentando, levantando, sentado, levantando e, adivinhem, sentando. 
Nunca fui assaltada até hoje, ainda bem. Uma vez perdi um ônibus por um triz e depois soube que ele foi assaltado. Mas se eu fosse mesmo assaltada a única coisa com um valor relevante que carrego é o meu celular, e não tenho muito apego por ele, a tecla da letra "a" precisa ser apertada umas cinco vezes para pegar, então...
Sempre me mantenho atualizada dentro de ônibus. Escuto desde coisas importantes até coisas que eu preferiria não ter escutado, sinceramente. Se não fossem os já referidos assaltados, a demora, a lotação, o preço exorbitante da passagem (sim, 2,20 por uma passagem é um roubo, dada as péssimas condições dos ônibus daqui de Natal) e os engarrafamentos que duram horas (uma vez passei mais de duas horas dentro de um ônibus, acho que agora entendo o que passam em São Paulo), seria maravilhoso andar de ônibus e ter esse contato mais direto com as pessoas: saber o que elas pensam, o que elas acham. Mesmo não concordando com a opinião de muita gente por aí, gosto de ver o lado oposto e me sentir grata em pensar diferente.
Aprendi que algo bem parecido com a seleção natural se aplica aos ônibus: os mais rápidos e espertos vão sentados. Justamente por isso que vou em pé. Aprendi que se eu não gritar "vai descer" quando o motorista não parar no meu ponto, eu vou ter que descer a quilômetros de distância de casa, muitas vezes num sol infeliz e ainda chegar em casa e receber broncas lindas da minha mãe me dizendo para deixar de ser besta. Aprendi que não importa quão pesada sua bolsa vá, algumas pessoas simplesmente não vão pedir para levá-la e você vai ter que dar seu jeito se não quiser ter a coluna defeituosa. Aprendi que eu preciso prestar mais atenção à rota dos ônibus, porque de vez em quando as pessoas me perguntam por qual rua ele vai, de que lado ele enrola e eu tenho que ser sincera e dizer "não faço a menor ideia".
Coisas como essas não se aprendem em livros, não te ensinam na escola e nem teus próprios pais, às vezes, vão conseguir te fazer compreender. Por isso que presto tanta atenção no que venho aprendendo, por isso que não acho tão ruim pegar ônibus de vez em quando. Se eu me perder, como já aconteceu, vou ter que achar o caminho certo sozinha. Porque o mundo é assim: cada um por si; e quanto mais cedo aprendermos a nos virar sozinhos, melhor.

2 comentários:

  1. Me identifiquei com você kkkk Também comecei a voltar de ônibus para casa ano passado e realmente é algo diferente. Quando a gente entra no mundo dos trabalhadores que voltam tarde para casa ou até mesmo de estudantes exaustos, é aí que vemos (pelo o menos eu) que muita coisa deve mudar em nosso país... Ótimo e engraçado post Luanna! kkk ri muito, confesso. Um beijo!

    (Between Green Eyes)

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  2. Quando eu era menor, lá pelos meus 7/8 anos, usava a kombi/van escolar e adorava, porque iam várias crianças junto comigo e eu me divertia bastante. Depois de um tempo nos mudamos e a escola era bem próxima da minha casa, na mesma calçada, então eu ia a pé, era bem legal, porque as minhas colegas passavam na minha casa todo dia de manhã pra irmos juntas. Quando fui pro ensino médio, comecei a enxergar o mundo com outros olhos, porque ia de ônibus para o colégio, lá estudavam pessoas de vários bairros diferentes, com educações e comportamentos bem diferentes aos que eu estava acostumada na antiga escola. Me libertei e descobri quem eu realmente era, pois lá eu não sofria tanta represália quanto no ensino fundamental.
    A passagem aqui em Porto Alegre é R$ 2,85, é cara para as condições do transporte público, apesar que do ônibus do meu bairro eu não tenho muito do que reclamar, pois ele tem ar condicionado, tem um de 5 a 7 minutos de segunda a sexta, de 10 a 15 no sabádo e de 20 em 20 no domingo, mas o resto dos ônibus é um terror que só. Enfim, acho que ficou um pouco grande o comentário, mas é isso. Beijos


    Mundo de Nati
    @meuamorpravoce

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