terça-feira, 10 de maio de 2016

Não sei o que tô fazendo

Eu nunca quis crescer. Eu não pensava nisso quando era criança e nunca tentei apressar minha chegada à vida adulta. Na verdade, eu já repeti várias vezes que estava satisfeita com a idade que tinha e Peter Pan me representou por algum tempo. Sendo que chega um ponto em que realmente você nota que as coisas estão mudando para o seu lado de tal maneira que você vê acontecer. Existem momentos em que eu paro e penso: é isso, está acontecendo AGORA. Essa decisão aqui que eu tenho de tomar vai me trazer impactos significativos e a experiência e maturidade que eu adquiri (ou deveria ter adquirido) eram justamente para me auxiliar nesse momento da minha existência e EU NÃO SEI LIDAR. 

Explico. Geralmente as mudanças nas nossas vidas que dependem do passar do tempo acontecem gradualmente, em doses homeopáticas, e se tornam mais fáceis de se lidar. Mas é bem mais complicado quando você estava vivendo em perfeita harmonia em um período de tempo e no que veio imediatamente em seguida você tem que tomar uma postura que deveria ter sido amadurecida ao longo da vida mas que não foi. Também é confuso na minha cabeça.

Resumindo: eu não sei ser adulta. 

Desde que eu completei dezoito, eu tento cristalizar no meu inconsciente o fato de que preciso saber agir como adulta, fazer coisas sozinha, tomar minhas próprias decisões, ser dona do meu destino. A verdade é que estamos, eu e eu mesma, num processo lentíssimo de atualização que só deve ser totalmente processado aos quarenta anos.

Eu não sei ser adulta. Sempre que eu preciso me mostrar como tal, me sinto incrivelmente fake. Parece que tem um IMPOSTORA escrito na minha testa que impossibilita avanços significativos. Às vezes eu paro para refletir na minha condição e lembro de mil e um exemplo de pessoas mais jovens que são tão independentes e adultas que eu só suspiro. 

Essa sensação aumentou devido a dois acontecimentos:

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, mas eu fui a um aniversário recentemente que me fez notar uma coisa que eu já tinha certeza: me sinto bem mais confortável com as crianças e pré-adolescentes que com os adultos. Eu sou exatamente a pessoa que prefere ficar brincando com os pestes de três anos que roubam meus doces a ficar falando dos pretendentes das tias. O que é uma coisa muito incomum na minha família, por isso já me sentia estranha o suficiente mas aí acontece o segundo acontecimento.

Sem querer, descobri a idade de um dos moços da recepção da autoescola. A autoescola por si só já é um troço demasiado assustador, que a propósito eu enrolei bastante para começar, e, se não bastasse isso, o rapaz que falei no início tem vinte e um anos. Eu fiquei perplexa. Eu dava uns vinte e seis no mínimo. Como assim a pessoa é desenrolada desse jeito, mexe com esse tanto de papéis, fala despreocupadamente com tantas pessoas ao dia, ao mesmo tempo em que tem que atualizar sistema e fazer um milhão de telefonemas, e tem apenas vinte e um anos? A verdade é que a desenvoltura dos outros me deixa desconcertada. Eu, por exemplo, quando fui sair sozinha para resolver um problema além de 1) não ter resolvido 2) esqueci minha identidade no local. 

Vivo me perguntando: o que eu estou fazendo aqui? Eu não sei fazer isso. Eu não tô fazendo direito. Eu sou uma fraude. Eu tô aqui, nesse corpo, com essa idade, mas não deveria. Quem foi que me deixou fazer isso? Não tô pronta. Não sei tomar decisões, não sei ser madura, e quando tento, sinto que estou interpretando um papel e não sendo eu mesma. Sinto que tem gente me observando e pensando: "olha só aquela garota ali tentando ser o que não é, vamos sentir pena dela".

Mas o que é a vida se não esse atropelamento dos nossos sentimentos? Dane-se se você não se sente preparada, a vida vai acontecer do mesmo jeito. O tempo não vai te esperar. É melhor se segurar e torcer para não cair de cara no asfalto. É o que tenho feito, sem muita esperança de sucesso.

domingo, 3 de abril de 2016

Umas séries para desopilar

Se os meses de novembro e dezembro do ano passado serviram de alguma coisa na minha vida, se de alguma maneira eles se mostrarem relevantes no futuro, o motivo vai ser: séries. Vi tudo que tinham me indicado, adentrei finalmente no mundo dos memes da internet e agora posso dizer que me sinto mais ou menos incluída e aceita entre a juventude porque sei que Sense8 não é uma banda. 

Há muito tempo (na minha cabeça entre 2013 e 2016 já se passaram uns quinze anos no mínimo), eu escrevi por aqui sobre minhas séries preferidas. Minha amiga comentou outro dia que gostaria de saber se eu modificaria muito a lista. Então resolvi falar sobre as coisas maravilhosas que me aconteceram depois de 2013. 

(Queria fazer uma uma menção honrosa a já citada Sense8, mas também a The 100, GOT, HTAWM, Dexter - que eu finalmente acabei - e outras mais que contribuíram para o meu incremento cultural com certeza. Mas não vou falar de todas por falta de talento e excesso de preguiça).

*DOWNTON ABBEY

"No início do século XX, a família Crawley luta para manter o legado de Downton Abbey. Após a morte de um parente que estava à bordo do Titanic, Robert Crawley (Hugh Bonneville) descobre que o novo herdeiro da propriedade é um sobrinho distante, Matthew Crawley (Dan Stevens), um advogado com pensamentos modernistas. Enquanto Robert e sua esposa Cora (Elizabeth McGovern) se preocupam com o futuro das suas filhas, Mary (Michelle Dockery), Edith (Laura Carmichael) e Sybil (Jessica Brown Findlay), os empregados da mansão trabalham para manter a rotina da família, com todas as regras da época."

Imagem de 20th century, actress, and period drama

Gostei tanto dessa série que quando comecei a ver saí indicando para todos que encontrava. Não tem seres fantásticos ou mortos-vivos, mas tem a vida acontecendo! O século XX acabou de chegar e os membros mais antigos da família fazem cara feia para o telefone, a eletricidade e todas essas coisas que fazem o homem driblar a natureza. Os acontecimentos da série misturam-se à história: passamos pela primeira guerra, a luta das sufragistas, o naufrágio do Titanic, a popularização das ideias socialistas. Tudo sempre regado a muito amor: casais prováveis e improváveis se formam todo o tempo e sempre tem gente apaixonada. Sem falar nos bailes que nos proporcionam figurinos incríveis. Indico sempre, mas a verdade é que nem eu mesma a vi inteira. Muita gente querida começa a morrer e eu simplesmente não pude lidar. Mas só em pesquisar essa foto já me deu uma vontade imensa de retomar de onde eu parei, mesmo sabendo que eu parei num momento muito triste. Um dia superarei </3

*DOCTOR WHO

"O Doutor é um Senhor do Tempo - um alien de um planeta distante chamado Gallifrey que tem dois corações e aproximadamente 900 anos. Em sua nave espacial, a TARDIS, ele atravessa as barreiras do espaço e do tempo lutando contra inimigos e criando aventuras com seus companheiros, que sempre escolhe para viajar junto a ele."

Imagem de doctor who, dr who, and jenna louise coleman Imagem de bbc, david tennant, and doctor who

Para muitos, Doctor Who é apenas mais uma série de ficção científica. NÃO É. A vida das pessoas melhoraria 100% se elas soubessem que Doctor Who não é apenas mais uma série de ficção científica. Saber disso é essencial. SÉRIO. Doctor Who é aquele tipo de série que te torna uma pessoa melhor, mais empática, mais feliz. Ela te faz agradecer pelas coisas e reclamar menos; te ensina que todo ser (extraterrestre ou terráqueo) é importante e deve ter seus sentimentos respeitados, e que o amor é livre e praticá-lo faz um bem danado. Doctor Who me faz ver beleza na vida, nos seres humanos e em mim mesma. E ainda tem quem não acredite no poder transformador das séries... tsc tsc.

*VIKINGS 

"Ragnar Lothbrok (Travis Fimmel) é o maior guerreiro da sua era. Lider de seu bando, com seus irmãos e sua família, ele ascende ao poder e torna-se rei da tribo dos vikings. Além de guerreiro implacável, Ragnar segue as tradições nórdicas e é devoto dos deuses. As lendas contam que ele descende diretamente de Odin, o deus da guerra."

Imagem de vikings and lagertha
DIVA

No ensino fundamental, uma professora de história me disse que eu parecia uma viking (meu cabelo é ruivo). Isso faz muito tempo, e acho impressionante como certas coisas podem ser objeto de muito significado para o resto de nossas vidas, porque sempre que a palavra viking aparece em algum lugar minha atenção inconscientemente redobra. Sempre tive essa vontade louca de querer saber mais sobre meus antepassados, quem eram, como viviam, de onde vieram. E ter talvez alguma remota relação com os nórdicos faz com que eu me encha de interesse e fique imaginando coisas. Enfim, divago. Vikings é uma série ótima e tem personagens incríveis, principalmente femininos. Ragnar é um conquistador nato, que sonha com outras terras e tem interesse por outras culturas. Desde o início, minha simpatia por ele foi instantânea. E ele me fez pensar bastante sobre como só chegamos onde chegamos porque existiram sempre pessoas que não estavam satisfeitas em viver suas vidas como viveram seus pais, avós... Tinha que existir algo mais, lá fora, algo além. E é com essa certeza de que a vida não podia ser só aquilo que ele chega à Inglaterra, à França, e tudo muda de espectro. Recomendadíssima.

* MY MAD FAT DIARY

"Ambientada em Lincolnshire de 1996, a série conta a trágica porém bem-humorada história de uma adolescente cheia de problemas, chamada Rae (Shaaron Rooney). Ela acabou de sair do hospital psiquiátrico, onde passou quatro meses depois de uma tentativa de suicídio. Ela então retoma sua amizade com Chloe (Jodie Comer) e seu grupo de amigos, que desconhecem os problemas de Rae com sua própria imagem e acham que ela apenas passou o tempo na França."

Imagem de my mad fat diary

Eu já tentei falar sobre a Rae para postar aqui. Mais de uma vez. My Mad Fat Diary é a minha série predileta e é, ao mesmo tempo, a que me causa mais dor. Eu a indicaria para todas as pessoas sabendo que a maioria gostaria, mas só vai sofrer de verdade quem, assim como a Rae, teve/tem problemas de autoestima que prejudicaram/prejudicam toda a sua vida. 
A Rae é engraçada. MUITO ENGRAÇADA. Porém todo esse humor só existe para esconder a sua frustração. Ela sente que sempre faz tudo errado, que tudo é culpa dela e culpa do corpo que tem. A Rae protagoniza a cena mais forte e mais triste que eu já vi em toda a minha vida. Eu fui Rae muitas vezes. 


E, tendo sido Rae muitas vezes, eu chorei em todos os episódios. Porque eu também tinha um diário. Porque eu já estive lá. Porque eu tento não voltar para lá todos os dias. 
Acho que essa série valeu por muitos anos de terapia e merecia todos os prêmios do mundo por falar de amor próprio com tanta sensibilidade. Queria poder dizer mais. Não consigo.

Imagem de rae and my mad fat diary
YESSSSSSSSSSSS


OBS.: Estava analisando a lista passada e queria dizer que das séries citadas meu amor permanece igual por The Walking Dead (inclusive, tem season finale hoje o/)
0BS2.: Percebi que todas as minhas séries favoritas já foram meus papéis de parede. Por isso estou inaugurando uma nova forma de esclarecer se uma coisa é minha preferida ou não: já esteve no meu papel de parede?

quarta-feira, 30 de março de 2016

Meu sentir é muito grande


Uma das coisas (entre várias) que sempre me fez sentir diferente das outras pessoas, principalmente das mais próximas a mim, é que eu sinto demais. Sempre elevei à enésima potência aquele acontecimento que mal modificaria o curso normal da vida dos outros, sempre dei muito significado àquelas coisas que nem significaram tanto assim no fim das contas - e o com o passar do tempo. Desde a infância, tenho uma tendência impressionante de acumular paixões platônicas. E gostar imensamente delas, e torná-las parte da minha vida, e deixá-las me influenciarem, e fazer delas meu porto seguro. E muitas delas poderiam até ter se tornado reais (talvez?), mas eu optei por esconder o sentimento em parte por vergonha, em parte por não querer que aquela coisa tão bonita entre mim e a pessoa-perfeita-sem-defeitos-que-me-ama-incondicionalmente-na-minha-cabeça acabe quando eu perceber que a pessoa não era quem eu havia idealizado, porque pessoas reais fogem à limitação do ideal. 

Eu sinto demais e na maioria das vezes guardo tudo para mim, e isso me mata aos pouquinhos. Às vezes penso que só pode ser masoquismo: insistir no erro e achar que tá tudo bem se dói, um dia passa. Achar que essa entrega descompromissada que não me leva a lugar nenhum (e quando leva, é para o fundo do poço) tem alguma beleza e poesia nas suas entranhas. 

Entre o fim do ano passado e o começo desse ano, por vários motivos e por várias fontes, me deu curiosidade e decidi baixar o Tinder. Li várias histórias de amor a respeito, conheço pessoalmente gente que, embora não tenha encontrado com quem se relacionar seriamente, ao menos fez amigos. Porém a única coisa que eu conseguia pensar enquanto passava por entre as fotos de vários moços é que eu estava sendo ridícula tratando gente como quem trata roupa (embora aquelas pessoas ali saibam que estão sendo tratadas como tais e queiram isso para vida). Eu já tinha me prometido que não escreveria a respeito, porque é muito sentir e pouca palavra, mas cá estou eu. Nunca li Bauman, mas sei que ele tem vários livros sobre essa vida moderna e líquida que levamos. Posso estar falando besteira e não ser sobre isso que o Bauman fala, mas eu irremediavelmente me lembro dele quando penso nesses aplicativos de namoro e na forma como toda as relações humanas estão se tornando frágeis e distantes.

Talvez sempre tenha sido assim. Talvez a maioria das pessoas realmente goste de estar em relacionamentos em que não há apego e a modernidade só tenha exacerbado o que antes não se podia mostrar às claras. Seja de um jeito ou de outro, eu me sinto inadequada por não conseguir manter esses relacionamentos eventuais, incertos e esporádicos como a maioria da juventude. Mais que inadequada, eu me sinto ridícula por pensar que é algo que vai durar, que vai se firmar, que vai crescer e florescer, quando na verdade, para quem está do outro lado, é apenas algo de semana, porque a hora de pensar nessas coisas é depois dos trinta. Ou às vezes é nunca mesmo. 

Esse não é um texto sobre como eu descobri uma forma de dar a volta por cima. Não é um texto sobre como alguém afogado em sentimentos consegue aproveitar a vida de maneira relativamente normal se relacionando com pessoas sem fazer grande questão se elas vão ficar ou vão embora. 

Sinto demais, em ambos os sentidos. E também simultaneamente: sinto demais por sentir demais. Quem sabe um dia passa?

terça-feira, 8 de março de 2016

Não é natural


Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam: isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia, 
Numa época em que corre sangue, 
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural!
A fim de que nada passe por imutável
Em que o arbitrário tem força de lei.
Bertolt Brecht 

Um dos primeiros ensinamentos que a gente aprende sendo mulher é que as coisas funcionam de um jeito diferenciado. Ensinam você desde criança a ter cuidado com o que veste, a fechar as pernas bonitinho, te condicionam a andar preocupada com a hora e com o que os homens ao seu redor podem estar pensando de você. É paranoia, é doentio, mas o medo é parte ininterrupta da vida da maioria das mulheres desse mundo. Não é medo somente de atrasar o compromisso, de sofrer um assalto: é medo de notarem que você é mulher e, por isso, acharem que você está disponível, é fraca, se tá dizendo não tá querendo dizer sim mesmo assim... 

Esses dias estávamos eu, minha mãe, minha tia e meu tio no carro e em determinado momento da conversa, sobre o preço das fraldas descartáveis, meu tio disse "se ela fosse um menino, poderia andar nu, mas como é menina tem que cobrir". Estávamos falando sobre uma bebê de um ano. Fala? Não fala. Sabe dizer o que quer? Não sabe. Tem consciência do mundo? Não tem. Mas já sofre as limitações de liberdade que ter nascido com uma vagina traz: tem que ser protegida dos homens. E tem um ano. 

Sempre que essas discussões alcançam tal espectro de profundidade, o mais comum é que os argumentos sejam "porque o mundo é assim". O mundo já foi de muitos jeitos: mulher não votava, mulher não dirigia, mulher não tinha para si as portas das universidades abertas. Tudo isso mudou porque gente antes de nós acreditou que o mundo não deveria ser assim. Não é porque as coisas são de um jeito quando eu nasci que elas devem permanecer do mesmo jeito até que eu morra. É isso que eu quero fazer todos que se opõe a lutar vejam, é isso que o poema do Bertolt Brecht, papel de parede do meu celular, me lembra todos os dias: nada é natural e tudo pode ser reconstruído; de velhas concepções outras mais justas podem ser moldadas.

Por isso que mesmo tendo que ouvir gente chata no dia de hoje dizendo que nem todas as mulheres merecem parabéns porque algumas não se comportam como tais (lê-se não são submissas o suficiente), eu tento a maior parte do ano ser didática e defender meu ponto de vista com as analogias que a história nos deu. Porque também achavam as sufragistas uma piada no século XIX, e nem por isso elas deixaram de conquistar todas as coisas que usufruo atualmente. 

O mundo não deve ser esse lugar onde meninas de sete anos trocam sexo oral por água e biscoitos; amigas saem para viajam sem a presença de um homem, são mortas e ainda julgadas por terem vivido com "muita liberdade"; moçambicanas cortam suas genitálias para sair de casa sangrando e assim não serem estupradas (homens não encostam em mulheres "impuras") (conhecer essa realidade foi uma das coisas mais tristes que já li em um livro na minha vida; o livro é Terra Sonâmbula, do Mia Couto). O mundo não deve e o mundo não vai ser, porque eu e metade do planeta estamos nos levantando e lutando. Cada vez mais, vejo meninas pré-adolescentes se interessando pelas discussões e problematizando o "natural". O patriarcado já deu os frutos que tinha que dar, já matou e oprimiu o suficiente: para os séculos seguintes, eu só prevejo mulheres alcançando lugares mais e mais altos. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Va bene: quando o italiano me mostrou que posso ser autodidata

Parte 1

Dentre as várias críticas que tenho ao sistema educacional que se tem no Brasil e em outros países por aí, a principal é o fato das aulas ministradas darem mais relevância ao falar e às vivências do professor, e não dos alunos. E principalmente: os alunos não descobrem que podem aprender as coisas sozinhos. No nosso inconsciente, fica essa ideia descabida de que todo conhecimento novo só entrará na nossa cabeça por intermédio de outro ser humano. Não estou querendo dizer que os professores não são importantes: óbvio que são essenciais. Mas eles deveriam nos mostrar o caminho à iluminação, e não detê-la apenas para eles. 

Quando eu lia sobre Machado de Assis e via que ele aprendeu tudo estudando só, eu pensava: quem me dera! O cara foi um gênio? Um dos maiores escritores que esse país já viu? Com certeza! Porém o que ele fez não é inacessível às pessoas normais como eu e (provavelmente) você. Todos nós conseguimos descobrir novos saberes com disciplina e foco.

Talvez o que eu esteja dizendo aqui seja muito evidente, mas foi algo que só aprendi recentemente. Sempre que eu queria aprender algo, eu precisava me matricular em aulas. Foi assim com o inglês. Coloquei na cabeça que só seria fluente se fizesse cursinho e insisti muito para ser colocada num. Eu precisava ser guiada, caso contrário aprenderia tudo errado ou não sairia do básico, porque eu não era Machado de Assis: assim pensava. Balela.

Parte 2

Em 2015, eu reencontrei uma banda de garotos italianos muito fofinhos que eu costumava ouvir em 2011. Foi totalmente inconsciente: por algum motivo que eu não lembro, fiquei com vontade de assistir novamente àquele programa da Eliana onde eles foram entrevistados e ver como estavam se saindo. Quando joguei o nome da banda no Youtube, eles tinham lançado um novo clipe há três dias (coincidência ou não a música virou hit e é a mais famosa deles até o momento) e me fizeram notar que, sim, estavam indo bem demais.



Passei boa parte do ano escutando eventualmente uma canção ou outra, acompanhando os novos clipes lançados e olhando as traduções do Vagalume. Não sei exatamente em que instante da minha vida eu percebi que eu PRECISAVA aprender essa língua maravilhosa onde tudo soa bonito e encantador, o que eu sei é que na madrugada do dia 1 para o dia 2 de janeiro eu estava iniciando os meus estudos procurando por sites, vídeos, livros ou qualquer coisa útil que fosse me ajudar a cantarolar essas músicas e falar de maneira tão melodiosa. 

Comecei com o Duolingo, que eu já conhecia quando estava tentando aprender inglês, e que também me serviu quando eu quis conhecer um pouco mais de francês (não saí do nível dois mas aprendi a falar meu nome). Descobri um site bacana da Usp que oferece um curso gratuito. Fiz um perfil no Livemocha logo de cara, mas fiquei incomodada com o tanto de italiano que veio conversar comigo porque eu nada sabia e todos queriam meu skype. Migrei para o Busuu, que super indico para quem está começando do zero. Fiquei tão entusiasmada e estava dando tão certo (eu estudava todos os dias e já tinha várias anotações) que eu comprei um livro

Fiquei um tempo sem treinar porque Sisu acabou com meus nervos, perdi todos os meus créditos acumulados no Duolingo (</3), mas agora estou de volta à ativa, tentando estudar no mínimo uma horinha do meu dia, nem que para isso precise acordar mais cedo, porque a verdade é que eu estou gostando de fazer isso SOZINHA. Ir atrás, aprender a criar uma rotina, testar qual tipo de metodologia funciona mais para mim. Agora com mais ou menos um mês de contato com a nova língua, eu percebo que já desenrolei muita coisa. Já aprendi a pronunciar o R? Não. Consigo manter uma conversa? Talvez não, também. Mas o mais importante foi ter a certeza que, com meu esforço, aos poucos, vai dar certo. E provavelmente essa já foi coisa mais significativa que eu aprendi em 2016.

Também conheci o Tiziano Ferro. Definitivamente outra coisa importante de 2016.




PS.: Esse blá blá blá todo foi devido ao fato de eu (euzinha!!!) ter acabado de cantar uma música inteira em italiano num aplicativo chamado Sing! com um italiano que eu não sei quem é. Foi muito emocionante perceber que eu estava cantando despreocupadamente numa língua que me era completamente estranha até ano passado. Nenhum de nós é incapaz de aprender: junte-se a mim e vamos todos nos inspirar no Machadinho! =)

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O resumo dos tempos que não merecem nota

(Quando eu fazia o primeiro ano, um professor me disse que eu era boa cronista. Não sabia direito o que era uma crônica, mas fiquei feliz por ser boa em algo. A questão é que não é por sempre gostar de escrever que eu tenha coisas incríveis escritas por aí, porque meu prazer maior sempre foi o desafio de tentar fazer parecer que a minha vida chata tem algo de interessante. Então quer saber? Vamos trabalhar mais nisso para que a prática não se perca.)

O ano passado pode, para mim, ser resumido basicamente em: estudar; espirros que o pó da borracha me causava ao estudar; e, por último mas não menos importante, limpar o pó para voltar a estudar. Tinha eu grandes coisas para escrever aqui? Não. Tudo que eu pensava em escrever era banal e versava ou sobre discussões intelectuais com as minhas amigas sobre o tempo (por que sempre que chovia eu tinha escolhido ir à aula de tênis e molhava meu pé nas poças é uma coisa complexa demais para responder plenamente) ou sobre as questões que não sabíamos resolver. Tenho eu grandes coisas para escrever agora? Também não. Mas cursinho acabou, não vejo minhas amigas todos os dias e não tenho com quem filosofar além das paredes. E monologar sempre foi chato.

Como já deve ter ficado claro, 2015 foi um ano de estudo que, dentre um acontecimento ou outro, como por exemplo quando eu estava com duas amigas na porta de entrada de um evento esperando o Gregorio Duvivier aparecer e ele entra pela porta dos fundos (como assim não pensamos nisso?!), só me deu dor nas costas e sinusite. Os dias que se seguiram ao Enem eu passei em negação: de uma série para outra, não queria pensar sobre os significados da minha existência ou se eu estava ou não desgraçando a minha vida com mais um ano de estudo e pó para aturar. Porque em nenhum dos meus planos eu tinha incluído minha aprovação. 

E não é que eu passei? Não foi na cidade que queria, mas foi perto. Só que por motivos de greve, as aulas só iniciarão no segundo semestre. Como as paredes e eu não temos tanto assunto para render até julho, resolvi continuar estudando e tentar passar na minha cidade. Fiquei feliz por ter conseguido? Sim, demais, mas não 100%. E eu me odeio por não ter ficado 100% feliz porque com certeza existem pessoas na lista de espera que assim ficariam. Me sinto a pior pessoa do mundo e mais um pouco. Porém, essa é a verdade e não fujo dela. Então como não inventaram ainda borrachas que sejam amigas dos alérgicos, o primeiro semestre desse ano parece tão atrativo e cheio de aventuras (só que não) quanto o ano passado. 

Um viva às futuras noites de sono mal dormidas: viva!