terça-feira, 10 de maio de 2016

Não sei o que tô fazendo

Eu nunca quis crescer. Eu não pensava nisso quando era criança e nunca tentei apressar minha chegada à vida adulta. Na verdade, eu já repeti várias vezes que estava satisfeita com a idade que tinha e Peter Pan me representou por algum tempo. Sendo que chega um ponto em que realmente você nota que as coisas estão mudando para o seu lado de tal maneira que você vê acontecer. Existem momentos em que eu paro e penso: é isso, está acontecendo AGORA. Essa decisão aqui que eu tenho de tomar vai me trazer impactos significativos e a experiência e maturidade que eu adquiri (ou deveria ter adquirido) eram justamente para me auxiliar nesse momento da minha existência e EU NÃO SEI LIDAR. 

Explico. Geralmente as mudanças nas nossas vidas que dependem do passar do tempo acontecem gradualmente, em doses homeopáticas, e se tornam mais fáceis de se lidar. Mas é bem mais complicado quando você estava vivendo em perfeita harmonia em um período de tempo e no que veio imediatamente em seguida você tem que tomar uma postura que deveria ter sido amadurecida ao longo da vida mas que não foi. Também é confuso na minha cabeça.

Resumindo: eu não sei ser adulta. 

Desde que eu completei dezoito, eu tento cristalizar no meu inconsciente o fato de que preciso saber agir como adulta, fazer coisas sozinha, tomar minhas próprias decisões, ser dona do meu destino. A verdade é que estamos, eu e eu mesma, num processo lentíssimo de atualização que só deve ser totalmente processado aos quarenta anos.

Eu não sei ser adulta. Sempre que eu preciso me mostrar como tal, me sinto incrivelmente fake. Parece que tem um IMPOSTORA escrito na minha testa que impossibilita avanços significativos. Às vezes eu paro para refletir na minha condição e lembro de mil e um exemplo de pessoas mais jovens que são tão independentes e adultas que eu só suspiro. 

Essa sensação aumentou devido a dois acontecimentos:

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, mas eu fui a um aniversário recentemente que me fez notar uma coisa que eu já tinha certeza: me sinto bem mais confortável com as crianças e pré-adolescentes que com os adultos. Eu sou exatamente a pessoa que prefere ficar brincando com os pestes de três anos que roubam meus doces a ficar falando dos pretendentes das tias. O que é uma coisa muito incomum na minha família, por isso já me sentia estranha o suficiente mas aí acontece o segundo acontecimento.

Sem querer, descobri a idade de um dos moços da recepção da autoescola. A autoescola por si só já é um troço demasiado assustador, que a propósito eu enrolei bastante para começar, e, se não bastasse isso, o rapaz que falei no início tem vinte e um anos. Eu fiquei perplexa. Eu dava uns vinte e seis no mínimo. Como assim a pessoa é desenrolada desse jeito, mexe com esse tanto de papéis, fala despreocupadamente com tantas pessoas ao dia, ao mesmo tempo em que tem que atualizar sistema e fazer um milhão de telefonemas, e tem apenas vinte e um anos? A verdade é que a desenvoltura dos outros me deixa desconcertada. Eu, por exemplo, quando fui sair sozinha para resolver um problema além de 1) não ter resolvido 2) esqueci minha identidade no local. 

Vivo me perguntando: o que eu estou fazendo aqui? Eu não sei fazer isso. Eu não tô fazendo direito. Eu sou uma fraude. Eu tô aqui, nesse corpo, com essa idade, mas não deveria. Quem foi que me deixou fazer isso? Não tô pronta. Não sei tomar decisões, não sei ser madura, e quando tento, sinto que estou interpretando um papel e não sendo eu mesma. Sinto que tem gente me observando e pensando: "olha só aquela garota ali tentando ser o que não é, vamos sentir pena dela".

Mas o que é a vida se não esse atropelamento dos nossos sentimentos? Dane-se se você não se sente preparada, a vida vai acontecer do mesmo jeito. O tempo não vai te esperar. É melhor se segurar e torcer para não cair de cara no asfalto. É o que tenho feito, sem muita esperança de sucesso.

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