Na quinta-feira da semana passada faltou
energia. Era véspera de feriado, a lua estava linda e eu poderia estar
feliz por só faltar um pouco mais de uma semana para as férias, mas a
única coisa que eu pensava era no tanto de tédio que eu estava sentindo.
Deixo aqui registrado o fato de que eu odeio apagões, por motivos
simples: tenho medo de que as velas incendeiem minha casa, as baterias
do celular e do notebook logo descarregam, não gosto de ficar olhando
para o teto. Então eu finalmente (!) me dei conta do quanto sou
dependente dessas tecnologias inventadas pelo homem. Se, por algum
motivo, todas elas deixassem de existir, não sei se a nossa espécie conseguiria
se adaptar novamente à vida sem elas. Eu, por exemplo, seria consumida
pelo tédio.
Há
cem anos, estar escrevendo num blog, como eu estou fazendo agora,
para qualquer pessoa do mundo ler, devia ser o nível mais alto de
bruxaria. Hoje, os bebês ainda na barriga da mãe já ganham um perfil no
Facebook. Eu acho assustador. Assustador porque não tenho ideia de onde
isso vai parar. Temo que nós estejamos nos fechando numa bolhinha que
vai tendo cada vez paredes mais grossas. Fico pensando se, um dia, o
contato humano será coisa secundária, que aconteça vez ou outra num ano.
Quem poderá dizer onde estaremos daqui a cem anos? Cientistas acreditam
que casar com robôs, no futuro, seja coisa viável.
Minha
mãe me conta histórias da infância dela e todas são tão legais. Ela e
os irmãos roubavam as frutas da plantação para fazer bichos, cozinhavam
em panelas de barro as sobras do almoço de verdade, conversavam à luz da
lua, tomavam banho em riachos e faziam tudo que se possa imaginar que
crianças façam com criatividade e companhia. Já eu, eu não tenho tantas
coisas bacanas assim para contar e vejo que as crianças de hoje terão
menos ainda. Não se pode mais brincar na rua com medo de se levar uma bala perdida qualquer, então o
mundo das nossas crianças fica restrito a quatro paredes, a jogos
eletrônicos que são, na sua maioria, nada educativos.
Estava
eu pensando sobre tudo isso, olhando para o teto, quando a energia
voltou e gritos ecoaram por toda rua numa felicidade só. Também não
achei ruim. Acho que vivemos de uma forma tão incrivelmente diferente da
dos nossos antepassados que não dá para voltar atrás, agora é só seguir
adiante. Embora seguir adiante possa não ser a melhor escolha.
Esse é um assunto que ocupa minha mente grande parte do tempo. Não gosto da visão apocalíptica de que vamos casar com robôs, nem da nostalgia de achar que tudo antigamente era muito melhor. Era diferente, fato. Mas também me incomoda muito a direção que as coisas estão tomando. A necessidade que sinto de ficar online e que percebo na grande maioria dos meus amigos não é nada saudável. Com certeza isso vai afetando a forma como todos nós interagimos e também não tenho certeza se de uma forma positiva.
ResponderExcluirMas pelo menos podemos trocar ideias como agora. :)