terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Seu velho Teddy.

   Era uma caixa de papelão, grande, grande não, enorme. Ela ocupava metade do pequeno quarto da Jane. A Jane hoje completava os seus onze anos e estava chateada com a mãe por algum motivo que eu não sei o que possa ser. Só sei que ela não havia brincado comigo ontem, mas havia deixado eu dormir do seu lado, como todos os dias desde que fui seu presente de aniversário há quatro anos atrás. Lembro-me da sua felicidade ao desatar o pequeno laço do embrulho que sua avó havia feito comigo dentro. A Sr. Martins passou o seu verão inteiro me costurando, e colocou em mim todo o carinho que cada agulhada pode dar. Ao abrir todo aquele papel de presente, com um sorriso no rosto, me recebeu com um longo e forte abraço, logo dizendo à sua avó que aquele era o melhor presente que qualquer garota de sete anos poderia ganhar. Desde então, tenho sido o seu velho companheiro. A Jane divide todos os seus segredos comigo. Todos: dos mais insignificantes, aos mais secretos.
   Mas desde ontem eu venho sentindo sua falta, ela não me deu um só abraço todo o dia, nem me disse o quanto eu era fofinho. Só sei que me partiu o coração ao vê-la chorar por algo. Eu escutei um “Mas, mãe, eu quero! Todas as minhas amigas têm um”, mas não sei o que possa significar. Ela não me tirou do lado do seu travesseiro todo o dia. Quando a noite chegou, ela apenas deitou-se e me deixou ali, do seu lado, imóvel, como havia me posicionado ontem. Mas nem um abraço sequer.
   Essa manhã, eu acordei com essa enorme caixa bem ao lado da cama de Jane. Acho que é algum presente para ela, algo bem grandioso, algo que só ela merece.
   A Jane está se mexendo, acho que ela está acordando. Ela gritou tão forte quando viu a caixa que me fez cair e ir parar em baixo da sua cama. Fiquei com medo de ela ter notado algo, mas nada.
   Ao abrir aquele enorme presente ela tinha no rosto um sorriso bem maior do que o que fez quando me ganhou, me senti o menor dos ursinhos de pelúcia no momento.
   Dentro da caixa gigantesca havia um lindo computador, daqueles mais sofisticados, que vem com todo o tipo de aparato. Naquele momento eu percebi: havia sido esquecido, jogado para trás, que a minha existência não lhe fazia a menor importância.
   Foram dias e mais dias debaixo daquela cama empoeirada, minha costura se desatava, eu estava fedendo e com frio. Só o que eu podia ouvir eram suas risadas, seus olhos penetrados numa tela que nunca desviavam dali. Fechei os olhos, e dormir.
   Quando acordei novamente o quarto estava totalmente mudado, até a poeira junto a mim, em baixo da cama, havia triplicado. Vi uma moça jovem entrar pela porta do quarto. Perguntei-me onde poderia estar Jane. Essa mesma moça olhou para mim, fez uma cara de surpresa, como se me conhecesse e não me visse há muito tempo. Tentei ser o mais simpático possível. Ela me tirou daquele lugar e limpou parte da sujeira que estava impregnada em mim. Olhou-me demoradamente, podia ver que seus olhos brilhavam e que na sua mente se passava várias recordações, só não podia saber quais. Logo a sua expressão mudou, ela me jogou de qualquer jeito numa caixa de papelão junto a outras coisas velhas.
Caixa de papelão, a odeio.    Antes dessa moça fechar a caixa, olhei bem nos olhos dela. Claro, como eu podia ter esquecido aqueles olhos? Aqueles olhinhos que já derramara inúmeras lágrimas em cima de mim? Eram os olhos da Jane. Da minha Jane. Olhei rapidamente o calendário em cima da cômoda. Vinte e cinco de Janeiro de 2011. Passara-se quatro anos.
   Logo um caminhão veio buscar todas aquelas coisas velhas que estavam comigo dentro da caixa. Não tinha ideia para onde estava indo. Chegamos a um local cheio de crianças. Das mais variadas. Logo abriram a caixa e uma menininha, bem jovem e feliz, me tirou lá de dentro. Podia associar aquele sorriso ao da Jane quando me viu pela primeira vez. Um simples sorriso, mas sincero e sem nenhum interesse.
   Estava pronto, pronto para ser amado e ser trocado por maletas de maquiagem lá na frente. Essa é a vida de um ursinho, não é mesmo? Mas crianças, eu sempre serei o velho Teddy de vocês. Sempre.
Desculpa o sentimentalismo do texto. E o ursinho se chama Teddy,
porque todo ursinho que eu conheço se chama Teddy, hahah.


  

4 comentários:

  1. Lindooo! Lindo! Lindo!
    Amei o texto!

    Pois é... Os ursinhos são esquecidos com o passar do tempo...
    Até hoje durmo abraçada com o meu Halph de 7 anos *-*
    Ganhei esse meu ursinho em 2003 (:
    Quantas lembranças...

    Beeijos,
    Marcella

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  2. Muito obrigada pelo desafio!
    Adorei :D
    Está aqui: http://diario-de-marcella.blogspot.com/p/selos.html

    Beeijos,
    Marcella

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  3. Luuh que coisa linda menina!

    amei o texto! :)


    Obg pela visita ao meu cantinho,
    te seguindo aqui tbm flor


    Bjss

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  4. É uma honra poder ler esse texto. Amei cada palavra, e me apaixonei pelo Teddy, haha! LINDO LINDO :*

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