domingo, 9 de dezembro de 2012

Um texto dedicado somente à nossa insignificância


Eu estava assistindo a um documentário maravilhoso sobre a evolução humana em um canal aleatório quando, em um comercial, um homem, também aleatório (mentira, ele parecia famoso, mas meu cérebro se recusa lembrar seu nome), começa a divagar sobre a nossa insignificância, assunto de meu interesse maior.
Depois que ele acabou seu discurso, rabisquei umas expressões chaves num caderno e já estava começando a redigir meu texto argumentativo sobre algo que realmente me interessa quando o documentário recomeça e eu decido, por fim, assisti-lo e escrever aquilo outra hora.
Mas eis que eu não me lembro. Tempos depois, olho o caderno jogado em cima do sofá e tento organizar aquelas expressões desconexas numa tentativa falha. Perdi todas as ideias que eu tinha em mente. Desde então, não tentei mais escrever nada porque eu estava ocupada devorando três livros em três dias - meu grande defeito: gula literária. Bem feito para mim, inclusive, que não consigo dar um tempo num livro e acabo com qualquer um novo que compro em poucas horas e passo os próximos dias sem nada novo para ler, tendo que recorrer à releitura dos meus exemplares favoritos, mas, para mim, nada substitui a magia de ler um bom livro pela primeira vez. Não, a magia não desaparece na centésima leitura, só diminui consideravelmente.
Mas não vim dedicar meus minutos comentando meus defeitos. O último desses três livros foi A Culpa É das Estrelas. Estava quase arrancando meus cabelos por ele.  Acabei de lê-lo a pouco e, para quem já o leu, sabe que o livro trata muito bem acerca do tema central desse texto: a nossa insignificância.
Tive que imediatamente liga-lo àquele homem do comercial. Estou com essas benditas palavras nas pontas dos meus dedos e agora, antes que elas percam o nexo, vou expulsá-las. Lá vamos nós.
Eu acho que todas as pessoas deveriam tomar consciência de sua insignificância. A palavra pode até parece maldosa à primeira vista, mas é isso que todos nós somos: insignificantes. Há quem não concorde comigo, mas não me julguem antes de ler minhas convicções por completo.
Cada um de nós compartilha ambições com outras 7 bilhões de pessoas – precisamos contar com as 98 bilhões (e continue contando) já mortas? Vivemos num planeta que está numa galáxia que é só uma dentre bilhões. E só vivemos porque somos aquecidos e iluminados por uma estrela dentre trilhões. Somente isso já faz alguém curioso pensar.
Os argumentos das pessoas positivas é que podemos deixar algo neste mundo. Um professor já me disse isso uma vez, quando eu tentava convencê-lo de que a vida é injusta. Mas, gente, vamos refletir. Algo que eu já pensava antes de ler o livro que é exacerbado mais ainda depois da leitura é o pensamento de que, sim, claro, deixaremos coisas nesse mundo. Seremos lembrados por muita gente (ou talvez não) e, quem sabe, até marcaremos a história de um jeito positivo (uma das minhas ambições que é só mais uma dentre tantas nesse mundo). Porém, essas pessoas também vão morrer um dia. E, mesmo que elas comentem sobre nós com seus filhos, esses filhos também vão morrer e assim sucessivamente. Por isso notem quão irônica é a frase: “lembraremos de Fulano para sempre”, dita constantemente, dando ideia de que a pessoa que a diz é imortal ou algo assim.
Eu vou continuar com a minha ideia de contribuir com alguma coisa para com o mundo. Fazer história. Mesmo que ninguém lembre. Por isso, lendo o livro, eu me senti sendo o Augustus Waters. Eu me apaixonei pelo garoto primeiro do que a Hazel, juro. O que não é uma coisa legal, levando em conta o fato de que ele não existe. O Gus (se a Hazel o chama assim, eu também posso) traduz tudo o que eu sinto e penso na maioria das frases que saem da sua boca. Ele sonhava alto e queria realizar algo, morrer por algo, pois ninguém lembra de quem morria de. E, no caso, ele tinha câncer. Agora, eu me imagino nele: tantos sonhos impossibilitados de se realizar por uma droga de doença que o mataria a qualquer dia. Ele era um efeito colateral, como se diz no livro, um simples erro de mutação - essa mesma que permitiu ser quem somos hoje: seres diferentes e complexos.
Não tenho câncer, felizmente. Mas minhas possibilidades de alguém lembrar do meu nome daqui a mil anos não se ampliam. Daqui a mil anos, talvez nem a espécie humana exista mais sobre a Terra. Talvez meteoros tenham acabado com tudo, o sol tenha explodido ou a profecia dos Maias se concretizado. Não vai existir ninguém para lembrar de Cabral, Gadhi, Hitler ou muito menos de mim. Todos nós vamos ter sido esquecidos, no fim. Seremos, então, todos iguais, tratados como um todo. Homo sapiens. Que se diferenciaram dos outros seres vivos por pensarem e entenderem a sua condição. Mas como é que se diz? "A ignorância é uma bênção".
Faço minha as palavras da Hazel dirigidas ao Gus quando ele diz que tem medo de ser esquecido: "E se a inevitabilidade do esquecimento humano preocupa você, sugiro que deixe esse assunto para lá".
É melhor nos preocuparmos com coisas relevantes, também concordo. Mas eu só acho interessante. O universo nos deu o dom de compreender, mas não o dom de modificar. Então a gente fica aqui, com as nossas vidas que no fim não serão lembradas, tentando achar um sentido para tudo isso, tentando nos lembrar que não vai ser em vão mas, mesmo assim, no íntimo, saber que vai... Pensando numa forma de tornar as coisas mais justas e perceber que não há meio. 
A vida é uma dádiva. Digo, qual a probabilidade de tudo isso acontecer novamente? Só um meteorito que fosse, um predador inesperado e não estaríamos mais aqui. Se os dinossauros não tivessem desaparecido a milhões de anos atrás em decorrência de um meteoro qualquer, eles teriam dizimado os mamíferos e a vida hoje seria totalmente diferente. Eu poderia passar horas escrevendo sobre a sorte que tivemos por driblar mil e uma eventualidades e riscos de extinção e estarmos hoje aqui, mas não quero cansar ninguém.
Então, como eu ia dizendo, a vida é realmente uma dádiva. Contudo, é tão injusta. Tão incoerente e desconexa na maioria do tempo. Às vezes, eu penso que ela não deveria nem existir. 
Porém, recorro da minha decisão porque eu amo a vida, apesar de tudo, e concordo em gênero, número e grau com a frase "a ignorância é uma bênção", de seja lá quem foi que a disse primeiro. Somos insignificantes, mas viveríamos melhor sem saber disso. Pelo menos no meu caso.
Se fosse assim, eu não perderia horas de sono escrevendo um texto que ninguém vai lembrar que foi escrito um dia, que vai se perder nas fendas do tempo, que não vai ser traduzido para outras línguas nem associado ao meu nome, por exemplo. 
Mas eu consigo sobreviver com isso. 

4 comentários:

  1. Quando comecei a ler seu texto e vi o nome do livro A culpa é das estrelas, já ia fechar seu blog caso encontrasse algum spoilers. rsrs Comprei o livro mais ainda não o li.
    Enfim, seu texto me fez lembrar de diversas coisas. 1º Quando li aqui no final "às vezes, eu penso que ela não deveria existir" me veio o robô Marvin na cabeça, ainda estou lendo o Guia do Mochileiro então qualquer frase desse gênero é fácil associar a ele.
    2º Um professor de um amigo disse certa vez: "Se você quer ser lembrado, escreva um livro."
    3º Já faz um tempo que estava discutindo sobre isso com uma amiga. Também acho a vida injusta em vários aspectos, mas algumas coisas dessa injustiça teria solução se a maioria da população não fosse tão acomodada como é. É só entrar no facebook que você já percebe o quanto as pessoas gostam de reclamar, mas não fazem nada para obter mudanças. Acho que se saíssemos desse comodismo e déssemos mais atenção aos que realmente precisam, talvez a vida tivesse algum significado.
    Beijos e desculpa o big comentário. (:

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  2. Não acrescentaria um virgula. Perfeito! Pense da seguinte forma, você pode não ser mundialmente conhecida, ou não ser lembrada para sempre, mas teve pessoas como você, e tão especiais e dignas desta vida maravilhosamente injusta desfrutando das suas horas de sono- aparetemente - perdidas só para chegar numa conclusão um pouco óbvia, mesmo que haja quem descorde!

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  3. A vida é uma percepção química do nosso cérebro e as cenas dejavú(s) que se esgueiram por nossos dias. Quem é você mesmo? Lembrarei vagamente um dia do seu rosto ou da sua voz...mas suas ideias, garota, são sensações químicas maravilhosas que o meu cérebro agora tornou eternas, pelo menos até a minha morte, aliás esse é o limite da nossa eternidade. Adoro seus textos.

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  4. A vida é uma percepção química do nosso cérebro e as cenas dejavú(s) que se esgueiram por nossos dias. Quem é você mesmo? Lembrarei vagamente um dia do seu rosto ou da sua voz...mas suas ideias, garota, são sensações químicas maravilhosas que o meu cérebro agora tornou eternas, pelo menos até a minha morte, aliás esse é o limite da nossa eternidade. Adoro seus textos.

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