quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nostalgia #1 - Mudança

Pode ser que eu seja meio neurótica, mas tenho medo de esquecer minhas lembranças quando a idade for chegando. Por isso, sempre que me lembro de um momento marcante da minha vida, eu vou lá no meu caderno e escrevo, na esperança de que, algum dia, quem sabe, quando minha memória falhar, eu possa ler e reviver tudo quantas vezes quiser, todos os dias.
Resolvi postar alguns dos meus textos aqui (adaptados, é claro, porque eu vou sempre omitir as partes mais pessoais), começando por este. Mas vou logo avisando: não são recordações grandiosas, são coisas bem bestas até... mas que, de algum jeito, conseguiram me marcar.

Não lembro o ano, nem muito menos o dia, mas o momento está intacto aqui, na minha memória. 
Há mais ou menos 7 anos, eu me mudava de casa. No começo, achava o máximo: uma casa nova, um quarto só para mim, um quintal enorme. Até que chegou o dia de, finalmente, mudar-me. Enquanto minha mãe com a ajuda de terceiros (não lembro quem eram as pessoas, talvez a idade esteja mesmo chegando) empacotava tudo, eu estava na sala – amontoada de coisas – lendo e relendo minhas histórias em quadrinho.
Nesse dia, tive minha primeira experiência de quase morte. Eu estava com sede e resolvi tomar água. Fui ao armário pegar um copo, mas, mal sabia eu que meu tio (eu acho) já havia despregado-o da parede. Tomei o maior susto da minha vida quando vi aquele armário caindo na minha direção. Graças a Deus eu fui mais rápida e ele sequer me atingiu. Eu nunca fui tão veloz na vida: num instante, eu estava na frente do armário que estava caindo; no outro, já estava na sala, ofegante, com o coração acelerado, ouvindo o armário cair e se despedaçar. Logo todo mundo correu para me ver e eu estava tão nervosa, que demorei a explicar o que tinha acontecido. Se eu não me engano, comecei a chorar. Posso dizer com todas as letras que aquilo foi um milagre.
Bem, depois eu me mudei. Odiei a casa nova. Chorava todas as noites. Não sei por que a odiava, talvez fosse implicância de criança. Lembro que numa noite fui até ao quarto da minha mãe, chorando, querendo voltar para minha antiga casa, aquela onde dormia no quarto dela (mesmo sendo em camas diferentes), onde, quando eu estava sem sono, podia pedir (ou melhor, implorar) para ela cantar, mesmo cantando muito mal.
Lembro que ela me disse que, em um mês, se ainda não estivesse habituada a nova casa e quisesse voltar, voltaríamos.
Passou-se um mês, dois, três, um ano, dois anos... oito anos e, sabe de uma coisa? Eu ainda desejo voltar. Mas a promessa não foi cumprida.
E foi naquela época, com oito anos, que, depois de reclamar a promessa com minha mãe, entendi que nem todas as promessas são cumpridas. E foi com oito anos que percebi que não importa se a promessa foi feita pela sua própria mãe. Os adultos subestimam as crianças. Acham que elas esquecem, que o tempo passa, nunca acham relevante o que elas dizem sentir. Mas não é bem assim. Lembro de como fiquei frustrada. Lembro que tive de viver na casa forçadamente.
Hoje ainda moro na mesma casa, e não a odeio mais. É evidente que agora compreendo minha mãe e os seus motivos para nos mudar, e que, realmente, não dava para voltar para casa antiga. Ela pensava que eu era criança demais e não conseguiria entender se ela me explicasse tudo, ou seja, subestimou sua filha.
Apesar de tudo, ainda prefiro a casa da minha infância, onde tudo era mais doce e simples.

Adaptado do meu caderno.

3 comentários:

  1. Coisas, histórias, sensações, mudanças que somente o tempo, pra nos fazer compreender,


    bjkas

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  2. Ô saudade da infância *.*
    Como disse Caio:
    "Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade.."

    *Obrigada pela presença,adorei aqui!

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  3. Que legal essa ideia do caderno, gostei!
    Bela lembrança! Beijo.

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