sábado, 14 de janeiro de 2012

É uma pena

Ela o desnorteava.
Não era nenhum protótipo de beleza, não mesmo. Era baixinha e tinha o cabelo ondulado. Era péssima em qualquer tipo de esporte e não tinha o corpo perfeito que impõe a sociedade.  Era tímida, conversava pouco e tinha poucos amigos. De vez em quando, jogavam-na algum apelido ou riam dela pelas costas. Porém, de qualquer maneira, tinha alguma coisa nela que ele gostava.
Era bom quando eles conversavam, ele sentia-se livre para contar suas piadas sem graça e ser quem ele é. Conversa vai, conversa vem, começaram a pegar no pé dos dois.
Isso porque ele era popular, não popular porque era só conhecido, mas sim popular daqueles conhecidos e amados, sabe? Aquele com quem todo mundo quer passar o recreio junto e ter o número de telefone.
Pois bem, a proximidade dela e dele não foi uma coisa bem vista pelas outras pessoas, que começaram a arranjar mil e um insultos para pôr na coitada que só queria conversar em paz.
Todos sabemos como é a natureza humana. A concorrência deve ser eliminada.
O que antes era prazeroso para ele, começou a ser motivo de vergonha. Não queria que ela o entendesse mal, o problema não era ela, mas era ele e todo aquele blá blá blá. 
Estamos cansados de saber que essa história de ter vergonha é muito da antiquada e idiota. Mas o que ele sentia não era só vergonha, era medo. Medo de deixar de ser aquele "popular idolatrado" porque, por mais que, às vezes, fosse cansativo ser centro das atenções, ele adorava aquela vida. Não ia pôr tudo a perder por uma garota só porque gostava de estar com ela. Na sua cabeça desmiolada, era um "sacrifício" que valia a pena. Afinal, garota ele podia ter qualquer uma (dá pra acreditar que era exatamente assim que ele pensava?)
Na escola, ele a evitada e achou melhor assim, "um dia ela me esquece", diz a si mesmo. Esquecer? É engraçado como os garotos esquecem fácil e as garotas NUNCA esquecem. Ela logo foi ter com ele quando percebeu que ele não a olhava como antes. Antes o olhar era terno, agora, só existia indiferença ali.
- Posso saber o que aconteceu? Quero saber o que eu fiz para você me ignorar tanto assim - disse ela ao encontrá-lo abrindo o armário. 
- Você? Nada... é só que... eu me encontro muito atarefado esses dias.
- Estranho... o engraçado é que você parou de falar comigo quando começaram a surgir aqueles comentários tipo "o que ele viu nela?", "sobre o que tanto eles conversam?", "ele é demais pra ela" e coisas assim. Eu não sou idiota, só pareço.
- Olha, é sério, eu gosto de conversar com você, mas...
- Mas as pessoas falam da gente e você tem vergonha de mim porque sou feia e excluída. 
Ele ficou calado. Sabia que sentir vergonha era uma coisa horrível, mas era bem isso que acontecia. 
- É uma pena, porque eu sou linda por dentro.

3 comentários:

  1. Que guri estúpido, é uma pena mesmo. Adoreio texto, 81.228.227.607º criatura da humanidade.

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  2. Hola Natalia, en la vida hay personas buenas y malas.
    feliz semana.
    un abrazo.

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  3. Luana,
    história simples, mas bacana para a gente refletir uma série de questões por ai ;p como o famoso bullying ^^

    Beijo
    _
    http://e-raumavez.blogspot.com

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