- Ô mamãe! Mãe, mãe, mãe! Vem lápido!
- O que foi, querido, que houve?
- Vem lápido!
E lá foi a mãe, largando os pratos ensaboados na pia, à procura do seu filhinho.
- O que aconteceu, meu anjo?
- Na hola que eu ia matar o monstlo tudo ficou pleto.
- Foi só porque acabou a energia. Já, já volta. Você pode ir brincar com outra coisa enquanto espera, querido.
- Tá bem...
Ele foi ao seu quarto ligar o computador, já que o videogame não funcionava. Como não conseguiu, correu ao encontro da mãe.
- Ô mamãe, o computador não liga!
- A mamãe não explicou que está faltando energia?
- Mas faltou nos dois?
- Faltou no bairro inteiro, filho.
- Ah...
Sem computador, sem videogame, o que faria ele? Tentou ligar a televisão, mas nada. O celular descarregado não carregava. As luzes dos cômodos não acendiam. O microondas não preparava sua pipoca. O chuveiro elétrico não esquentava sua água. Seu sorvete tinha derretido. Seus carrinhos não tinham graça, pois não andavam sozinhos. Seus soldadinhos não arrancavam a cabeça dos seus monstros. Os seus zumbis não se levantavam sozinhos das suas tumbas para assustar pessoas. E o mais legal também não acontecia: as suas pessoas de plástico não saíam correndo amedrontadas.
Muito frustrado, foi à mãe novamente.
- Mamãe, assim não tem glaça viver.
- Daqui a pouco a energia volta, meu amor. Tenha paciência.
- Mas eu quelo blincar agola - e começou a chorar descontroladamente.
A mãe, pegando-o nos braços, tentou reconfortá-lo.
- Você tem vários brinquedos, querido!
- São todos uns chatos! Eles não matam, não falam e nem se mechem.
- Mas, amor, essa é a parte legal. Você tem que imaginar o que quer que eles façam.
- São chatos! São chatos!
Em meio a soluções, pegou no sono. A mãe deitou-o e enrolou-o na cama. Saiu dizendo a si mesma:
- Agora, sim, eu percebi. Estamos no século XXI.
* produtinho, no título, é só o diminutivo de produto, não foi empregado de maneira pejorativa, só para esclarecer. Até porque eu também sou quase um produto desse século, né. Nasci em 96.
Vou dar uma de vovó e falar: no meu tempo não era assim. Tudo bem, hoje em dia não vivo sem tecnologia, acho até que ela ajuda muita gente, mas convenhamos, a infância é bem mais alegre quando se brinca de verdade. No futuro - se eu tiver filhos - vou criá-los como eu fui criada, um pouco de desenho na TV, brincar de boneca - ou carrinho - pular corda com a turma, pega-pega, essas coisas...
ResponderExcluirBeijos, Garota de All Star